As forças da Ucrânia entraram na Rússia. Poderia ajudar a acabar com a guerra?


À medida que a Ucrânia continua reivindicando mais território dentro da Rússia, uma semana após a maior incursão transfronteiriça da guerra, várias questões permanecem sem resposta — incluindo qual pode ser o objetivo final.

No curto prazo, Kiev diz que está buscando estabelecer uma “zona tampão” dentro da região de Kursk, um dos vários territórios de fronteira de onde a Rússia lançou ataques com mísseis que atingiram a Ucrânia.

Mas analistas sugerem que a operação surpresa também pode ser sobre a Ucrânia garantir aos aliados ocidentais que ela ainda pode levar a luta até a Rússia, apesar de estar em menor número de armas e homens. Isso pode até mesmo ajudar a empurrar Moscou para a mesa de negociações em melhores termos para os ucranianos, dizem alguns especialistas.

“Isso não mudou o curso da guerra, porque (os ucranianos) simplesmente não têm poder militar para fazer isso”, disse Andrew Rasiulis, um membro do Canadian Global Affairs Institute. “Mas eles podem melhorar sua posição de barganha.”

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Ofensiva de Kursk: Ucrânia se prepara para contra-ataque enquanto Rússia alerta que Ocidente está “cutucando o urso”


O presidente russo, Vladimir Putin, fez comentários semelhantes, embora ele e o Kremlin ainda não tenham concordado com nenhuma negociação de cessar-fogo.

Enquanto isso, Putin prometeu expulsar as tropas ucranianas de Kursk, mas dias de batalhas intensas até agora não conseguiram expulsá-las.

As forças ucranianas entraram pela primeira vez na região de Kursk em 6 de agosto, vindas da região nordeste de Sumy, parecendo pegar tanto o Ocidente quanto o Kremlin de surpresa.

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A província russa fica bem ao norte do que há muito tempo foi estabelecido como a linha de frente da guerra, a região sudeste de Donbass, na Ucrânia, que a Rússia anexou no outono de 2022, meses após lançar sua invasão em grande escala.

Essa linha de frente de aproximadamente 1.000 quilômetros permaneceu em grande parte bloqueada por mais de um ano. Uma tentativa de contra-ofensiva ucraniana no ano passado não conseguiu reconquistar nenhum território significativo, e os militares desde então têm lutado contra um número decrescente de soldados — exigindo uma controversa lei de recrutamento — e uma desaceleração na ajuda militar dos EUA, seu maior fornecedor ocidental.

Nos últimos meses, a Rússia vem realizando uma investida coordenada na região de Donetsk, bombardeando vilas e cidades ucranianas com artilharia, mísseis e bombas e forçando as tropas defensivas a recuar.


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Rússia inicia contra-ataque a Kursk: Kremlin


Esse avanço lento, mas implacável, teve um custo. O exército de Moscou sofreu mais de 1.000 baixas por dia em maio e junho, enquanto avançava sobre Donetsk, de acordo com o Ministério da Defesa do Reino Unido. Mas a Rússia ainda tem uma vantagem de mão de obra, e ganhou terreno um quilômetro de cada vez.

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A Ucrânia, dizem analistas, conseguiu tirar vantagem do foco intenso da Rússia na linha de frente e mirar no relativamente mal protegido Kursk.

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“Isso mostra que a Ucrânia ainda está na luta e ainda é capaz de surpresa estratégica e grande planejamento”, disse Joseph Varner, vice-diretor do Instituto da Conferência das Associações de Defesa, que atuou como consultor sênior e diretor de políticas do ex-ministro da defesa Peter Mackay.

A Ucrânia há muito reclama de estar paralisada na defesa contra ataques de mísseis russos por instruções dos EUA e aliados para não usar armas fornecidas pelo Ocidente para atacar território dentro das fronteiras tradicionais da Rússia. Os EUA só permitiram ataques limitados em território ao norte de Kharkiv, no norte da Ucrânia, para evitar ataques naquela região densamente povoada.

A ofensiva de Kursk, que a Ucrânia só começou a confirmar no início desta semana, é outra maneira de pôr fim aos bombardeios transfronteiriços, diz Kiev.

O principal comandante militar da Ucrânia, general Oleksandr Syrskyi, disse em um vídeo postado no canal Telegram do presidente Volodymyr Zelenskyy na quinta-feira que suas forças avançaram para mais de 1.150 quilômetros quadrados da região de Kursk, embora não tenha sido possível verificar essa afirmação de forma independente.

Se for verdade, isso significaria que a Ucrânia capturou em apenas uma semana quase a mesma quantidade de terra que as forças russas tomaram — 1.175 quilômetros quadrados — entre janeiro e julho deste ano, de acordo com cálculos do Instituto para o Estudo da Guerra, um centro de estudos sediado em Washington.

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Clique para reproduzir o vídeo: 'Ucrânia reivindica 1000 km de território russo'


Ucrânia reivindica 1000 km de território russo


No vídeo, Syrskyi disse que as forças de Kiev avançaram 35 quilômetros em Kursk na semana passada e tomaram o controle de 82 assentamentos, que se acredita serem vilas e aldeias.

“Estamos avançando na região de Kursk”, escreveu Zelenskyy no Telegram na quinta-feira.

Moscou tentou minimizar a incursão e diz que as alegações da Ucrânia são exageradas. Ainda assim, as autoridades evacuaram cerca de 132.000 pessoas das regiões de Kursk e Belgorod vizinhas e têm planos de evacuar outras 59.000.

Tropas ucranianas também fizeram mais de 100 soldados russos prisioneiros, disse Syrskyi. Zelenskyy disse que eles seriam eventualmente trocados por prisioneiros de guerra ucranianos.

Analistas dizem que é improvável que a incursão altere a dinâmica do conflito.

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“A Rússia ainda tem números a seu favor”, disse Varner, acrescentando que pode contar com recrutamentos de dentro do país e retirar combatentes de áreas menos intensas da Ucrânia para enviar a Kursk sem depender de tropas da linha de frente.

A contra-ofensiva em Kursk pode revelar-se “brutal”, acrescentou, quando essas forças e armas adicionais chegarem.

“Não sabemos de onde essas unidades ucranianas vieram, quão fortes elas são e qual é sua capacidade de mantê-las abastecidas”, ele disse. “Então não sabemos quanto tempo elas podem aguentar.”

Isso pode não importar a longo prazo. Zelenskyy disse na terça-feira que a operação Kursk também tem como objetivo levantar o ânimo do país após 900 dias de guerra e fazer uma declaração enfática sobre as capacidades militares da Ucrânia.


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Rússia-Ucrânia: Zelenskyy confirma que tropas ucranianas estão avançando em território russo


Também é possível que a Ucrânia expanda sua pegada dentro da Rússia. A região de Belgorod, que fica ao lado de Kursk, declarou emergência regional na quarta-feira durante pesados ​​bombardeios ucranianos, com o governador regional anunciando evacuações em meio à situação “extremamente difícil e tensa”.

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O próprio Zelenskyy sugeriu na quinta-feira “outras ações no território do estado agressor” em sua declaração de quinta-feira, bem como a necessidade de preparar os “próximos passos” em Kursk, mas não deu mais detalhes.

Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia disse na terça-feira que Kiev não tem intenção de ocupar o território russo que controla.

Rasiulis disse que a Ucrânia continuará a usar qualquer influência que puder para forçar a Rússia a sentar-se à mesa de negociações, onde ele e outros analistas dizem ser provavelmente o único lugar onde o fim da guerra pode ser alcançado.

Zelenskyy propôs negociações de paz a serem realizadas em novembro que incluiriam a Rússia, depois que o país não foi convidado para uma cúpula anterior na Suíça em junho. Mas o Kremlin disse que a perspectiva de negociações foi colocada em espera uma “longa pausa” pela operação Kursk.

A Casa Branca, que afirma não ter sido avisada com antecedência por Kiev sobre seus planos e tem sido cautelosa em não comentar a operação, deixou clara sua opinião sobre como Putin deve responder.

“Esta é a guerra de Putin”, disse o porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, a repórteres na segunda-feira. “E se ele não gostar, se isso o estiver deixando um pouco desconfortável, então há uma solução fácil: ele pode simplesmente dar o fora da Ucrânia e encerrar o assunto.”

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—com arquivos da Associated Press e Reuters





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