Familiares de vítimas de um acidente aéreo no Brasil estão se reunindo neste domingo em um necrotério e hotéis em São Paulo enquanto especialistas forenses trabalham para identificar os restos mortais das 62 pessoas mortas no acidente.
Autoridades locais disseram que os corpos do piloto, Danilo Santos Romano, e de seu copiloto, Humberto de Campos Alencar e Silva, foram os primeiros a serem identificados.
A mídia brasileira disse que outras quatro pessoas foram identificadas no necrotério de São Paulo, que não confirmou a informação.
O governo do estado de São Paulo disse em um comunicado na manhã de domingo que as buscas terminaram às 22h45 de sábado, 33 horas após o acidente, com os restos mortais de todos os 34 homens e 28 mulheres entre as vítimas recuperados. Ele acrescentou que os destroços permanecem no local para que os investigadores possam continuar seu trabalho.
O turboélice bimotor ATR 72 operado pela companhia aérea brasileira Voepass estava a caminho do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, com 58 passageiros e quatro tripulantes a bordo quando caiu na sexta-feira em Vinhedo, 78 quilômetros ao norte da metrópole.
A Voepass informou que três passageiros que portavam documentos brasileiros também portavam documentos venezuelanos e um tinha documentos portugueses.
Imagens registradas por testemunhas mostraram a aeronave em um giro plano e mergulhando verticalmente antes de se espatifando no chão dentro de uma comunidade fechada, deixando uma fuselagem obliterada consumida pelo fogo. Moradores disseram que não houve feridos no solo.
Foi o acidente aéreo mais mortal do mundo desde janeiro de 2023, quando 72 pessoas morreram em um avião da Yeti Airlines no Nepal que estolou e caiu durante sua aproximação para pouso. Esse avião também era um ATR 72, e o relatório final culpou o erro do piloto.
Relatos de formação de gelo no momento do acidente
A Metsul, uma das empresas meteorológicas mais respeitadas do Brasil, disse na sexta-feira que houve relatos de formação de gelo severo no estado de São Paulo na época do acidente. A mídia local citou especialistas apontando a formação de gelo como uma causa potencial para o acidente.
A polícia restringiu o acesso à entrada principal do necrotério de São Paulo, onde os corpos do acidente estavam sendo identificados. Alguns familiares das vítimas chegaram a pé, enquanto outros vieram em minivans. Nenhum falou com jornalistas, e as autoridades pediram que eles não fossem filmados quando chegaram.
Um voo transportando mais familiares do estado do Paraná pousou na tarde de sábado no aeroporto de Guarulhos. Uma minivan patrocinada pela companhia aérea foi fornecida para transportá-los ao necrotério.

O governo do estado de São Paulo disse que 26 famílias já compareceram ao necrotério para identificação, e mais são esperadas para domingo.
Um American Eagle ATR 72-200 caiu em 31 de outubro de 1994, e o US National Transportation Safety Board determinou que a causa provável foi o acúmulo de gelo enquanto o avião estava circulando em um padrão de espera. O avião rolou a cerca de 2.400 metros e mergulhou no chão, matando todas as 68 pessoas a bordo.
A Administração Federal de Aviação dos EUA emitiu procedimentos operacionais para ATRs e aeronaves similares, instruindo os pilotos a não usar o piloto automático em condições de gelo.
‘Não há como retomar o controle do avião’
O especialista em aviação brasileiro Lito Sousa alertou que as condições meteorológicas por si só podem não ser suficientes para explicar por que o avião da Voepass caiu da maneira que caiu na sexta-feira.
“Analisar um acidente aéreo apenas com imagens pode levar a conclusões erradas sobre as causas”, Sousa disse à The Associated Press por telefone. “Mas podemos ver um avião com perda de sustentação, sem velocidade horizontal. Nessa condição de rotação plana, não há como retomar o controle do avião.”
A Força Aérea Brasileira disse no sábado que ambos os gravadores de voo do avião foram enviados para seu laboratório de análise na capital, Brasília. Os resultados de suas investigações devem ser publicados dentro de 30 dias, disse.
Marcelo Moura, diretor de operações da Voepass, disse aos repórteres na sexta-feira à noite que, embora houvesse previsões de gelo, elas estavam dentro de níveis aceitáveis para a aeronave.
Em um comunicado anterior, o centro de investigação e prevenção de acidentes aéreos da Força Aérea Brasileira disse que os pilotos do avião não pediram ajuda nem disseram que estavam operando em condições climáticas adversas.
O ATR 72, que é construído por uma joint venture da Airbus na França e da Leonardo SpA da Itália, é geralmente usado em voos mais curtos. Acidentes envolvendo vários modelos do ATR 72 resultaram em 470 mortes desde a década de 1990, de acordo com um banco de dados da Aviation Safety Network.