A Ucrânia atacou regiões russas com mísseis e drones na quarta-feira, enquanto Kiev dizia estar avançando cada vez mais na maior incursão estrangeira na Rússia em décadas, o que, segundo a Casa Branca, representa um “verdadeiro dilema” para o presidente Vladimir Putin.
Milhares de tropas ucranianas invadiram a fronteira russa nas primeiras horas de 6 de agosto, na região de Kursk Ocidental, na Rússia, no que Putin disse ser uma grande provocação com o objetivo de ganhar força em possíveis futuras negociações de cessar-fogo.
Para vergonha da Rússia, a Ucrânia conquistou uma fatia de Kursk e, embora Putin tenha dito que o exército russo expulsaria as tropas ucranianas, batalhas intensas até agora não conseguiram expulsá-las.
A Rússia disse na quarta-feira que destruiu 117 drones ucranianos na Rússia durante a noite, principalmente nas regiões de Kursk, Voronezh e Belgorod e Nizhny Novgorod. Disse que mísseis também foram abatidos e mostrou bombardeiros Sukhoi Su-34 bombardeando posições ucranianas em Kursk.
Comandantes russos disseram que a frente em Kursk havia se estabilizado, embora o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy tenha dito que suas forças continuavam avançando e ordenado que seus generais desenvolvessem os próximos “passos-chave” na operação.
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que autoridades americanas estavam em contato constante com a Ucrânia sobre a invasão da Rússia, o que, segundo ele, “criou um verdadeiro dilema” para Putin, que ordenou o envio de milhares de tropas para a Ucrânia em 2022.
A Casa Branca disse que a Ucrânia não avisou com antecedência sua incursão e que os Estados Unidos não tiveram envolvimento na operação, embora autoridades russas tenham sugerido que os apoiadores ocidentais da Ucrânia deviam saber do ataque.
Uma autoridade dos EUA disse que o objetivo da incursão ucraniana em Kursk parecia ser forçar a Rússia a retirar tropas do país para defender o território russo contra o ataque transfronteiriço.
O ataque ucraniano à Rússia, o maior de uma força estrangeira desde a Segunda Guerra Mundial, mudou dramaticamente a narrativa em torno da guerra. A Rússia vinha avançando desde o fracasso da contraofensiva da Ucrânia em 2023 em obter grandes ganhos contra as forças de Moscou.
Rússia na defensiva
Putin disse na segunda-feira que a Ucrânia “com a ajuda de seus mestres ocidentais” pretendia melhorar a posição de negociação de Kiev antes de possíveis negociações de paz e retardar o avanço das forças russas.
Um vídeo divulgado por Vyacheslav Gladkov, governador de Belgorod, na Rússia, mostra pessoas sendo evacuadas de áreas de fronteira com a Ucrânia.
Mas, em um sinal de que o ataque está endurecendo a posição do Kremlin, Putin questionou quais negociações poderiam ser feitas com um inimigo que ele acusou de atirar indiscriminadamente contra civis e instalações nucleares russas.
Autoridades russas dizem que a Ucrânia está tentando mostrar aos seus apoiadores ocidentais que ainda pode realizar grandes operações militares, ao mesmo tempo em que aumenta a pressão sobre Kiev e Moscou para que concordem em conversar sobre a interrupção da guerra.
Ao levar a guerra para a Rússia, a Ucrânia forçou quase 200.000 russos a evacuar as regiões fronteiriças.
Governador russo declara estado de emergência
Vyacheslav Gladkov, governador da região fronteiriça russa de Belgorod, declarou estado de emergência em toda a região na quarta-feira, citando ataques contínuos das forças ucranianas.
“A situação na região de Belgorod continua extremamente difícil e tensa”, disse Gladkov em um vídeo postado no aplicativo de mensagens Telegram.
Ele acrescentou que os bombardeios diários das forças armadas ucranianas destruíram casas, matando e ferindo civis.
A ofensiva traz riscos para Kiev: a Ucrânia pode deixar outras partes da frente expostas ao dedicar forças para lutar em território soberano russo. A Rússia controla 18 por cento do território ucraniano e tem avançado nos últimos meses.
A Ucrânia afirmou que controla pelo menos 1.000 quilômetros quadrados da Rússia, mais que o dobro do que os números de Moscou indicam. A Reuters não conseguiu verificar de forma independente a situação do campo de batalha.
Um blogueiro militar russo próximo ao Ministério da Defesa que atende pelo nome de “Rybar” disse no aplicativo de mensagens Telegram que as forças ucranianas estavam atacando em várias áreas ao mesmo tempo. As tropas russas estavam “prendendo” os soldados de Kiev, atacando seus arsenais, enquanto os reforços chegavam.
