A noite começou numa neblina, mas tudo parecia normal – assustadoramente, em retrospecto. Tel Aviv fervilhava com a sua energia habitual, as ruas ocupadas com pessoas celebrando, rindo, vivendo. A cidade pulsava de vida, como sempre, vibrante e despreocupada.
Eu estava voltando para casa embriagado, depois de muitas fotos comemorativas de Simchat Torá, meus sentidos entorpecidos pela alegria do feriado e pelo calor de estar cercado de amigos. Não houve nenhum aviso, nenhum sinal de que algo estava errado. Nada poderia ter nos preparado para o inimaginável que viria com o amanhecer do dia seguinte.
Quando tropecei na cama, minha cabeça estava girando e eu mal tinha energia para me lembrar de que precisava acordar para ir à sinagoga pela manhã. O mundo se transformou em um redemoinho vertiginoso quando eu desmaiei, a alegria do feriado ainda pairando na minha consciência.
Depois, a sirene.
Isso cortou meu sono, arrancando-me de um sonho profundo com eficiência brutal. No início era apenas um som distante e irreconhecível. Mas em poucos instantes a realidade se instalou: a sirene. Saí da cama, com o coração acelerado, meu corpo impulsionado pelo instinto antes que minha mente pudesse compreender totalmente a gravidade da situação.
Corri para o meu quarto seguro, minhas mãos tremendo enquanto tentava fechar as janelas do jeito que me foi mostrado – como deveria ser feito. Mas esta foi a primeira vez que fiz isso de verdade. Sozinho, desorientado e assustado, me atrapalhei. Talvez tenha sido um incidente isolado? Ou pior, talvez eu tenha dormido durante uma furadeira?
Dez minutos. É quanto tempo nos dizem para ficar na sala segura. Eu esperei. O silêncio lá fora pareceu confirmar minhas suspeitas – provavelmente não era nada. Cautelosamente, voltei para a cama, meu corpo ainda tremendo enquanto me deitava. Eu estava exausto demais para lutar contra a onda de sono que me puxava de volta.
Outra sirene. Mais alto desta vez. Mais perto.
Corri de volta para a sala segura, meu pulso acelerando. As explosões eram ensurdecedoras agora, os baques agudos do Domo de Ferro interceptando os foguetes acima, vibrando através das paredes do meu prédio. Parecia que a guerra havia chegado à minha porta. O pânico tomou conta de mim. Liguei meu telefone, ainda hesitante por causa do Shabat, mas também desesperado por informações.
Eu gostaria de nunca ter ligado.
As notificações chegaram, cada uma pior que a anterior: “10 civis mortos num festival”. “Terroristas entraram em Israel.” “Israelenses sequestrados.” Meus dedos tremiam enquanto eu navegava pelas mensagens e alertas de notícias. Vídeos de terroristas desfilando por Sderot, armados e caóticos, encheram minha tela. Minha mente era um turbilhão, lutando para dar sentido às imagens que pareciam impossíveis.
Mandei uma mensagem para meu amigo Etan, um ex-soldado das FDI. Se alguém sabia o que estava acontecendo, era ele. A resposta veio rapidamente: “Estamos em guerra. Fui convocado.
Essas palavras me atingiram como um golpe. Guerra. Parecia surreal, como algo saído de um livro de história, não da minha vida. Os vídeos eram insuportáveis de assistir – corpos, destruição, terror. Isso poderia realmente estar acontecendo?
Meus pensamentos dispararam enquanto as sirenes continuavam a soar lá em cima, enquanto as explosões do Domo de Ferro sacudiam minhas janelas. Meu medo crescia a cada segundo. Pesquisei no Google a distância entre mim e Sderot – uma hora de carro. Foi assim que o terror esteve próximo.
Consegui ligar para minha amiga Hanava e, por algum milagre, ela encontrou um táxi para ir ao meu apartamento. O dia passou num borrão de ansiedade, meio assistindo ao noticiário, meio encolhido na sala segura, rezando para que tudo acabasse. Os números continuaram aumentando. Cada relatório foi pior que o anterior – mais mortos, mais ataques, mais dor.
TODOS OS MEUS AMIGOS estavam comprando passagens de avião, lutando para deixar Israel, mas eu recusei. Como eu poderia partir quando o país estava sangrando? Quando as pessoas estavam sofrendo? Eu não consegui. Eu não faria isso.
Em meio ao caos, vi um rosto familiar na enxurrada de postagens sobre pessoas desaparecidas no festival de música Supernova. Liam. Nunca nos conhecemos pessoalmente, mas ele me adicionou no Instagram apenas algumas semanas antes, e conversamos, fazendo planos vagos de nos encontrarmos. Lembrei-me dele mencionando que iria a um festival. Aquela festa.
Mandei uma mensagem para ele desesperadamente: “Espero que você esteja bem”.
As horas se prolongaram, cada uma mais angustiante que a anterior. Por volta das 18h, um foguete atingiu perto do meu prédio. O chão tremeu com tanta força que pensei que a explosão tivesse destruído meu apartamento. Meu corpo tremia, lágrimas escorrendo pelo meu rosto enquanto eu gritava no silêncio que se seguiu. Tudo mudou num piscar de olhos, a alegria do feriado substituída pelo terror, por uma sensação avassaladora de desamparo.
Continuei verificando minhas mensagens, esperando por um sinal de Liam. Nada. Mandei uma mensagem para um de seus amigos. Ele também não sabia muito, mas prometeu me manter atualizado. A espera era insuportável. Os sons da guerra, as imagens que não conseguia afastar da mente – terroristas tão próximos, israelitas mantidos como reféns, dormindo em Gaza. Esse pensamento me assombrou.
Em algum momento devo ter desmaiado, embora o sono não tenha trazido nenhum alívio. Apenas pesadelos.
Quase 365 dias depois, essas imagens ainda me assombram. Todas as noites penso neles – nos reféns, ainda em Gaza, tal como estiveram nas últimas 365 noites. Lamento por Liam e pelos outros 1.200 cujas vidas foram cruelmente roubadas naquele dia fatídico. O mundo seguiu em frente, mas não podemos. O peso daquele dia permanece, mais pesado a cada dia que passa.
A escritora é uma nova imigrante francesa que fez aliá em outubro de 2022. Atualmente trabalha como coordenadora de imprensa e mídia para a Organização Sionista da América, onde defende os valores sionistas e apoia iniciativas pró-Israel em todo o mundo.