Um ano após os trágicos acontecimentos de 7 de outubro, a Orquestra Filarmónica de Israel e a Fundação de Arte Nassima Landau uniram-se numa colaboração comovente que mistura arte visual com música clássica.
Este projeto conjunto, “Pictures at an Exhibition”, estreou no fim de semana no Auditório Charles Bronfman em Tel Aviv.
A exposição oferece uma experiência poderosa e multissensorial, mergulhando profundamente na memória coletiva e no trauma que perdura daquele dia fatídico. Através da fusão da música e das artes visuais, o projeto procura criar uma paisagem emocional onde a arte se torna um veículo de cura e lembrança.
No centro desta comovente colaboração está a famosa suíte musical “Pictures at an Exhibition” de Modest Mussorgsky, originalmente composta em homenagem ao seu amigo, o pintor Viktor Hartmann. O trabalho de Mussorgsky transformou a arte visual de Hartmann em música, capturando as emoções e as imagens que as pinturas despertavam dentro dele.
Neste projecto único, o processo é inverso: nove artistas israelitas e internacionais inspiraram-se na música de Mussorgsky, permitindo-lhe moldar as suas expressões artísticas na pintura, fotografia e vídeo. As suas obras, ricas em reflexões pessoais e colectivas sobre os acontecimentos do dia 7 de Outubro, são projectadas durante os concertos de abertura da temporada da Filarmónica e expostas no foyer da sala de concertos.
A arte ganha vida com a música
Este projeto é ideia de Lahav Shani, diretor musical da Filarmônica de Israel, e de Steeve Nassima, fundador da Nassima Landau Art Foundation. Juntos, eles abordaram artistas de renome mundial como Michal Rovner, Gideon Rubin e Joel Mesler, cada um dos quais selecionou um movimento da suíte de Mussorgsky para responder através de sua arte. Suas obras, repletas de temas de luto, perda, resiliência e esperança, transmitem o espectro de emoções que ainda ressoam nos corações de uma nação.
À medida que a Filarmónica de Israel apresenta “Pictures at an Exhibition” de Mussorgsky, as obras de arte ganham vida no ecrã, entrelaçando música e arte visual numa fusão deslumbrante. Esta extraordinária sinergia atrai o público para um espaço emocional partilhado, onde a arte e a música parecem respirar juntas, transformando o concerto numa experiência profundamente envolvente. É mais do que apenas uma performance; é um tributo vivo ao espírito duradouro de um povo que navega nas consequências de uma tragédia indescritível.
Uma das peças de destaque nesta colaboração é “L’Chaim”, uma criação evocativa do artista americano Joel Mesler. Numa conversa antes do concerto, Mesler partilhou os seus pensamentos sobre as camadas de significado incorporadas na sua obra de arte, que investiga temas de vida, resiliência e o inflexível espírito judaico.
Conhecido por suas pinturas ousadas baseadas em texto que muitas vezes exploram a identidade, a memória e a história pessoal, Mesler tornou-se uma voz significativa na arte contemporânea. Seu trabalho frequentemente tece experiências pessoais com a herança judaica, infundidas com cores vibrantes e letras estilizadas.
Para “L’Chaim”, ele se baseia na história judaica antiga e moderna para explorar as profundas diferenças entre “L’chaim” e “Life”.
“A resposta de um público judeu americano quando uso ‘L’chaim’ é muito diferente da de um israelense secular”, explicou Mesler. “Não se trata apenas de celebração – trata-se de sobrevivência, de escolher a vida diante da adversidade.”
Esta reflexão levou Mesler a meditar sobre a divisão crescente entre as comunidades judaicas em Israel e na Diáspora, particularmente na forma como cada uma se relaciona com a sua herança e identidade partilhadas. Através de L’Chaim, Mesler procura explorar e colmatar esta divisão. O seu trabalho não serve apenas como uma celebração da vida, mas como uma meditação sobre a sobrevivência, a luta e o renascimento de um povo que enfrentou perseguições ao longo da história.
“Quando digo ‘L’chaim’, não estou falando de um brinde casual. Estou falando da respiração que respiramos, da luz dentro de nós. Trata-se de escolher a vida em vez da morte, a esperança em vez do desespero”, partilhou ele com serena convicção.
Arte é uma responsabilidade
Este tema da sobrevivência permeia L’Chaim. A ligação profundamente pessoal de Mesler com a sua identidade judaica, juntamente com as lutas mais amplas do povo judeu, transparece em cada pincelada. A sua pintura é mais que arte; é uma declaração espiritual e filosófica que fala da resiliência de um povo que viveu nas trevas e emergiu, uma e outra vez, para a luz.
Mesler foi sincero sobre o peso emocional de expressar temas tão profundamente enraizados através da arte. Ele descreveu sua participação no projeto como uma extensão de sua jornada pessoal, marcada por dificuldades, recuperação e um renovado abraço à vida.
“Lutei, mas consegui sair do outro lado”, disse ele com uma sensação de triunfo silencioso. “Todos os dias sou grato pela vida.”
Para Mesler, a arte é mais do que estética; trata-se de responsabilidade.
“Quando se trata de qualquer coisa que envolva recuperação ou apoio ao povo judeu, estou totalmente dentro”, disse ele, com sua paixão evidente. A sua contribuição para “Pictures at an Exhibition” não é apenas sobre arte; é uma missão pessoal, uma forma de levar adiante a luz que ele acredita que o povo judeu deve ser para o mundo.
Ele refletiu sobre as diferenças marcantes entre as experiências dos judeus americanos, que enfrentam o aumento do antissemitismo, e dos israelenses, que vivem com a constante ameaça de violência.
“Os judeus americanos estão chocados com o anti-semitismo que enfrentam agora, enquanto os israelitas vivem sob ameaças constantes”, observou Mesler. No entanto, apesar destas diferenças, ele vê as lutas como interligadas na narrativa mais ampla da sobrevivência judaica.
Em última análise, L’Chaim trata da continuidade – a continuação da vida, da identidade judaica e do espírito que se recusa a ser extinto.
“Sem vida não há luz”, disse Mesler, capturando a essência de seu trabalho em uma única frase.
À medida que a sua peça profundamente reflexiva foi revelada, ela ressoou junto do público – judeus e não judeus – convidando-os a uma contemplação partilhada da vida, da sobrevivência e do poder duradouro do espírito humano.
A exposição permanece aberta ao público, um testemunho do poder curativo da arte e da música e da força de um povo determinado a transformar a dor em resiliência.