
VINHEDO, Brazil –
Autoridades brasileiras trabalharam no sábado para descobrir o que exatamente causou o acidente aéreo no estado de São Paulo no dia anterior, que matou todas as 61 pessoas a bordo.
O avião da companhia aérea local Voepass, um turboélice bimotor ATR 72, seguia para o Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, com 57 passageiros e quatro tripulantes quando caiu na cidade de Vinhedo.
Imagens registradas por testemunhas mostraram a aeronave em um giro plano e mergulhando verticalmente antes de se espatifando no chão dentro de uma comunidade fechada, e deixando uma fuselagem obliterada consumida pelo fogo. Moradores disseram que não houve feridos no solo.
A chuva caía sobre os socorristas enquanto eles recuperavam os primeiros corpos da cena no frio do inverno do hemisfério sul. Alguns moradores do condomínio saíram silenciosamente para passar a noite em outro lugar.
Foi o acidente aéreo mais mortal do mundo desde janeiro de 2023, quando 72 pessoas morreram a bordo de um avião da Yeti Airlines no Nepal que estolou e caiu durante sua aproximação para pouso. Esse avião também era um ATR 72, e o relatório final culpou erro do piloto.
Uma reportagem de sexta-feira do centro meteorológico da rede de televisão brasileira Globo disse que “confirmou a possibilidade de formação de gelo na região de Vinhedo”, e a mídia local citou especialistas apontando a formação de gelo como uma causa potencial para o acidente.
Um American Eagle ATR 72-200 caiu em 31 de outubro de 1994, e o National Transportation Safety Board dos Estados Unidos determinou que a causa provável foi o acúmulo de gelo enquanto o avião estava circulando em um padrão de espera. O avião rolou a cerca de 8.000 pés e mergulhou no chão, matando todas as 68 pessoas a bordo. A Administração Federal de Aviação dos EUA emitiu procedimentos operacionais para ATRs e aviões semelhantes, dizendo aos pilotos para não usarem o piloto automático em condições de gelo.
Mas o especialista em aviação brasileiro Lito Sousa alertou que as condições meteorológicas por si só podem não ser suficientes para explicar por que o avião caiu da maneira que aconteceu na sexta-feira.
“Analisar um acidente aéreo apenas com imagens pode levar a conclusões erradas sobre as causas”, Sousa disse à AP por telefone. “Mas podemos ver um avião com perda de sustentação, sem velocidade horizontal. Nessa condição de rotação plana, não há como retomar o controle do avião.”
Em declarações a repórteres na sexta-feira em Vinhedo, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, disse que a caixa-preta do avião foi recuperada, aparentemente em estado de conservação.
Marcelo Moura, diretor de operações da Voepass, disse aos repórteres na sexta-feira à noite que, embora houvesse previsões de gelo, elas estavam dentro de níveis aceitáveis para a aeronave.
Da mesma forma, o tenente-coronel Carlos Henrique Baldi, do centro de investigação e prevenção de acidentes aéreos da Força Aérea Brasileira, disse a repórteres em uma entrevista coletiva no final da tarde que ainda é muito cedo para confirmar se o gelo causou o acidente.
O avião é “certificado em vários países para voar em condições severas de gelo, inclusive em países diferentes do nosso, onde o impacto do gelo é mais significativo”, disse Baldi, que chefia a divisão de investigação do centro.
Em uma declaração anterior, o centro disse que os pilotos do avião não pediram ajuda nem disseram que estavam operando em condições climáticas adversas. Também não há evidências de que os pilotos tentaram contatar controladores de aeroportos regionais, disse o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, a repórteres na sexta-feira à noite em Vinhedo.
A Polícia Federal do Brasil iniciou sua própria investigação e enviou especialistas em acidentes aéreos e identificação de vítimas de desastres, informou em um comunicado.
A fabricante de aviões franco-italiana ATR disse em um comunicado que foi informada de que o acidente envolveu seu modelo ATR 72-500 e que os especialistas da empresa estão “totalmente engajados para dar suporte tanto à investigação quanto ao cliente”.
O ATR 72 geralmente é usado em voos mais curtos. Os aviões são construídos por uma joint venture da Airbus na França e da italiana Leonardo SpA
Acidentes envolvendo vários modelos do ATR 72 resultaram em 470 mortes desde a década de 1990, de acordo com um banco de dados da Aviation Safety Network.
As autoridades brasileiras começaram a transferir os corpos para o necrotério na sexta-feira e pediram aos familiares das vítimas que trouxessem quaisquer exames médicos, de raio-X e odontológicos para ajudar a identificar os corpos. Exames de sangue também foram feitos para ajudar nos esforços de identificação.
Costa Filho, ministro dos Aeroportos, disse que o centro da Força Aérea também realizará uma investigação criminal sobre o acidente.
“Vamos investigar para que esse caso seja esclarecido integralmente ao povo brasileiro”, disse ele.
Sá Pessoa reported from Sao Paulo and Koenig from Dallas.