Campanha de marketing para atrair docentes está a revoltar professores


“Ser professor… é mudar vidas.” É este o mote da campanha lançada pela Direcção-Geral da Administração Escolar (DGAE) com o objectivo de atrair mais docentes para as escolas já neste próximo ano lectivo, que arranca a 12 de Setembro.

A campanha, que pode ser vista no site da DGAE, tem como destinatários professores já aposentados, docentes à beira da reforma, estrangeiros com habilitações para o ensino, investigadores e estudantes à procura de um caminho. Estes grupos já tinham sido escolhidos como alvos a atrair no Plano +Aulas+Sucessoapresentado pelo MECI em Junho e que tem como objectivo reduzir drasticamente o número de alunos sem professores.

Com fotografias que parecem retiradas de bancos de imagens, pode ver-se, entre outras apresentações do género, uma docente sentada junto de alunos com a legenda “Ser Professor é Continuar Jovem”, uma outra em frente a um quadro de sala de aula com a epígrafe “Ser Professor é Voltar à Escola”, ambas com idades supostamente a rondar os 65 anos ou mais, mas com um aspecto radiante.

“O dinheiro que gastam neste marketing seria muito mais bem entregue na concessão de apoios às deslocações e estadias dos professores, o que não está a acontecer, e poderia ajudar a valorizar a profissão junto dos mais jovens”, comenta o presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima.

Este responsável frisa que os docentes não precisam deste tipo de campanhas. “Já sabem se querem ou não prolongar o seu vínculo e a maioria não quer.” “Estão a sair exaustos, tristes e desolados com o sistema”, retrata.

Em declarações ao PÚBLICO, a dirigente da Missão Escola Pública, Cristina Mota, aponta no mesmo sentido, lembrando a título de exemplo que há 458 professores que entram na aposentação em Setembro, “o que é indicador de que o plano do ministro não vai surtir efeito”. “Ainda que se atingissem os números previstos pelo MECI (1200) através do regresso de aposentados e adiamento das reformas, ficaria muito aquém das necessidades das escolas”, destaca.

Quanto à campanha da DGAE, não desperdiça palavras: “Não foi bem aceite e não revela a realidade das escolas.”

Também o movimento SOS Escola Pública já se insurgiu contra a campanha da DGAE, descrevendo em comunicado que “dá uma ideia de gozo com o que é da Educação”, traduzindo-se assim numa “falta de respeito”. “Os professores não precisam de panfletos para se motivarem, os professores precisam do que é seu por direito para cumprir as suas funções”, o que passa, entre várias outras reivindicações, por “aumentar significativamente o valor-base” de vencimento.

Compensações financeiras

Entre as medidas para captar professores, que são descritas de novo na campanha da DGAE, o Governo comprometeu-se a compensar os docentes que adiem a entrada na reforma com “uma remuneração adicional até 750 euros brutos”.

Deste modo pretende conseguir que mais mil professores continuem a dar aulas, mesmo já tendo atingido a idade de reforma. É para este grupo que se destina um dos alentos já referidos da campanha da DGAE: “Ser Professor é Continuar Jovem”.

É também através de uma compensação financeira extra – até cerca de 1400 euros líquidos – que se pretende atrair 200 professores aposentados para regressar à escola. Neste caso, o alvo são docentes das disciplinas com maior carência de professores. Estão identificadas 15, entre as quais Português, Matemática, História, Física e Química e Biologia e Geologia.

Numa rubrica designada como “Primeiro Passo”, a Direcção-Geral da Administração Escolar indica o seguinte: “Para ingressar nesta profissão começa por comunicar com a DGAE, através do preenchimento do formulário de contacto.” O mesmo está disponível no final da página reservada a esta campanha. Para o efeito já foi criado um novo endereço de e-mail: serprofessor@dgae.medu.pt.

Os professores que ingressam ao abrigo deste plano apenas podem concorrer a horários disponíveis em contratação de escola, o que actualmente dispensa a titularidade de um mestrado em ensino.



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