Cartas ao director


Superparvos

O Parlamento discute um imposto sobre os super-ricos. Se o vulgar cidadão se esquecer de pagar o IUC do carro, ou qualquer imposto, o Estado aplica-lhe uma coima.

Entretanto, as grandes empresas usam escritórios de fachada noutros países para subtraírem ao país o que lhe devem; grandes negócios fazem-se através de empresas-fantasma em offshorese grandes fortunas escondem-se em paraísos fiscais.

Perante isto só podemos concluir que vivemos numa farsa económica, de que os super-ricos são o produto final; com um imposto para os super-ricos poderíamos fazer de conta que vivemos numa sociedade mais justa. Contudo, continuar a manter uma porta aberta para os paraísos fiscais e continuar a permitir que as grandes empresas burlem legalmente o Estado vai garantidamente manter tudo na mesma, pois mais uma vez escaparão ao fisco.

O combate aos offshores e sedes fiscais fantasmas continua fora da agenda, mostrando que, se temos poucos super-ricos, temos certamente milhões de superparvos.

José Cavalheiro, Matosinhos

O aumento da falta de saúde mental

Enrique Rojas Montes é um dos mais conceituados psiquiatras de Espanha. É uma personalidade humanista, com trabalho desenvolvido em várias áreas clínicas. Tem, igualmente, abordado temas como o aumento da falta de saúde mental nos jovens e nos adultos, consequência de uma sociedade demasiado competitiva e exigente, demasiado desumana e volátil, onde nem uma formação académica superior garante um mínimo de estabilidade e sossego, nem permite pensar num futuro tranquilo e ridente.

Os problemas do dia-a-dia acumulam-se, surgem novos desafios quase intransponíveis e os vencimentos de milhões de pessoas já não conseguem suportar a carestia de vida em todos os seus aspectos. Seja na Espanha ou com mais pertinência no nosso país. Esta situação contribui, certamente, para que possam irromper perturbações a nível da saúde mental com consequências imprevisíveis e irreparáveis. Daí que não seja despiciendo o alerta do probo fiscalista Tiago Caiado Guerreiro, ao dizer que há uma necessidade urgente de “desonerar sucessivamente o imposto sobre as pessoas”. O fiscalista vai mais longe e sublinha que “o rendimento que fica actualmente para as pessoas fazerem face a todas as despesas da vida é muito pouco”. Afinal, parece que “tudo é rico neste santo país, até os salários mínimos já são tributados”. Pobre país que finge que é rico e lança impostos em tudo o que mexe. E depois admiremo-nos que aumentem os problemas de saúde mental nas pessoas…

António Cândido Miguéis, Vila Real

Bandeira portuguesa

O navio com destino a Israel transportando armamento ostenta a bandeira portuguesa. Mais de 14.000 crianças já foram mortas pelas Forças Armadas de Israel com armamento enviado pelos EUA e países ocidentais. Esse navio foi proibido de atracar na Namíbia. Qual o interesse do Governo português em afirmar a sua posição belicista? Poderá o executivo ser acusado de genocídio? O sorriso de Paulo Rangel parece querer ombrear com o sorriso de Kamala Harris. O ministro dos Negócios Estrangeiros português o que tem a dizer? A hipocrisia política atingiu níveis tão elevados que as críticas a Israel são acompanhadas de enormes quantidades de armamento.

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

Problema das democracias

Sou, por formação e convicção, um democrata e, lendo a crónica de Pedro Norton no PÚBLICO de terça-feira, penso que nela o autor toca no cerne, no âmago, do problema das democracias, no fundo a contradição entre rapidez e profundidade, equilíbrio impossível, ainda mais quando a primeira é, no imediato, percebida e sentida por todos, e a segunda só pelos que se dedicam a pensar o futuro tendo para isso que bem estudar, interpretar e integrar em pensamentos e projectos, as possíveis e necessárias acções para moldar esse futuro.

Estas são as razões por que não sou optimista quanto à capacidade de as democracias, poluentes e poluidoras, “encontrarem” o caminho para conseguir que o aquecimento global do planeta não exceda as metas que, de conferência internacional em conferência internacional, crescentemente estão e irão sendo definidas. Temo pelos meus netos e os filhos deles. Muito mais poderia dizer sobre a contradição acima referida, mas o tempo e o espaço são curtos, por isso fico-me por aqui.

Jorge Mônica, Parede



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