“Complexo”
É a nova palavra usada pelos que tudo querem fazer para nada mudar sobre um assunto em que basta cumprir a lei. “Artimanha”, chamar-lhe-ia eu, pois complexidade é outra coisa. Há dias foi o ministro dos Negócios Estrangeiros que justificou a manutenção da bandeira portuguesa num navio que transporta explosivos para Israel com a “complexidade” jurídica… que não existiu para ser hasteada, direi eu. Agora é o ministro dos Assuntos Parlamentares – para “sossegar” os parceiros do CDS – que usa a “complexidade” para não regulamentar imediatamente a “lei da eutanásia” e, neste caso – pois julgará que acrescentar mais “razões” é ganhar mais razão –, acrescenta diferentes “complexidades”, tais como “deontológicas, técnicas, operacionais”. Esqueceu-se de aduzir… as religiosas. Como diz a canção de Dalida: letras, letras…
Fernando Cardoso Rodrigues, Porto
Há mais vida para além do IRS e do IRC
Estamos fartos das diatribes dos políticos do centro, da direita extremada e da extrema-direita neofascista sobre o Orçamento do Estado para 2025 (OE25). Há tantas, tantas situações que urge resolver, para além do IRS e do IRC. Mas aqueles só falam disto. É verdade que o IRC beneficia, de sobremaneira, as grandes cadeias de distribuição, os seguros e a banca, provocando um corte nos cofres do Estado de 500 milhões de euros. E estamos a ver onde é que o executivo da direita extremada (AD) vai tirar para compensar este rombo… é ao Estado social. Quanto ao IRS Jovem, beneficia quem ganha mais, pudera!
Aqui, o “desfalque” é “só” de mil milhões de euros! Para compensar, a resposta está referida acima. Mesmo que se retire o IRC do OE2025, aquele foi desenhado para uma elite e para favorecer, sobretudo, a classe que este desgoverno representa e defende – os ricos!
Vítor Colaço Santos, São João das Lampas
“Totoeleições”
Os portugueses têm razões para elevar a sua auto-estima por serem chamados tantas vezes para decidir sobre a governança: 2019, 2022, 2024, e pairam agoiros que em 2025 será provável! Contudo, em vez de se enaltecerem com tão grande responsabilidade, acabam por se sentir defraudados e frustrados por não acertarem com os seus votos no quadradinho certo. Com efeito, este acto está a tornar-se cada vez mais um jogo de sorte ou azar, apesar de os prognósticos e soluções serem anunciados previamente. Concluem que, afinal, tudo fica viciado e deixam de ir a jogo. E sentem que têm de ouvir até à exaustão, repetidamente, os “credos” de cada candidato, sabendo que são eles quem tudo tem de pagar. Quem mais apela ao voto é quem mais dá razões para aumentar a abstenção. Sejamos poupados a mais um escrutínio e mantenha-se esse “casino” fechado até à temporada certa.
José M. Carvalho, Chaves
Bombeiro ou incendiário?
Sobre a evidente conivência do Presidente da República com o Governo, querendo impor à oposição a aprovação da totalidade de um Orçamento de uma maioria apenas tangencial, é tempo de perguntar: magistratura de influência ou magistratura de ingerência? Agora que Lucília Gago está de saída, é altura de voltar a perguntar: onde estão as acusações contra António Costa que justificaram o pretexto de Marcelo para acabar com um governo maioritário? Nessa altura, o interesse nacional não era o mesmo?
Marcelo andou a brincar com os fósforos, e agora no rescaldo, tenta apagar novos reacendimentos; é o que sucede quando damos a um pirómano uma farda de bombeiro.
José Cavalheiro, Matosinhos
Afinal, para que serve a ONU?
Criada por líderes mundiais doloridos pela devastação provocada pela Segunda Guerra Mundial, a ONU foi, durante algum tempo, o suporte do clima de entendimento entre as nações para que nunca mais houvesse conflitos bélicos entre si. Mas, com a evolução da mentalidade resultante dessa tragédia, a humanidade foi desenvolvendo, em gerações sucessivas, as características tribais que geneticamente transporta desde que existe, e os antagonismos generalizados acumulados durante séculos foram-se agravando, a ponto de ser quase impossível manter a via pacifista pretendida – a não ser que a tão desejada IA concebida pelo homem (já perfeito sem o sabermos?) se proponha consolidá-la. Porque nunca entendi o facto de vigorar nos estatutos da ONU o poder de veto de alguns membros sobre qualquer assunto que considerem ser contrário aos seus interesses, julgo que a ONU para pouco serve e que a sua criação obedeceu, fundamentalmente, ao princípio inquinador de supremacia dos países que sempre foram poderosos.
Celerino Dias, Viana do Castelo