O canal de Youtube do Grupo 1143, que tem como porta-voz Mário Machado, militante neonazi recentemente condenado a dois anos e dez meses de prisão efectiva por incitamento ao ódio e à violência nas redes sociais, foi suspenso na sequência de uma investigação do O jornal New York Times.
Segundo avança o diário norte-americano, o Youtube suspendeu a conta em resposta a um conjunto de questões enviadas pelo jornal sobre o teor do conteúdo partilhado. “Qualquer conteúdo que promova violência ou incentive ao ódio dirigido a pessoas com base em atributos como etnia ou condição de imigração não é permitido na nossa plataforma”, respondeu a empresa.
Não é a primeira vez que um canal do Grupo 1143 é bloqueado na sequência de denúncias de incitamento ao ódio. Já em Outubro de 2023 a conta do movimento liderado por Mário Machado no X (antigo Twitter) foi suspensa. Mas voltaria a estar disponível dias depois, retomando um fórum semanal de conversas em áudio ao vivo.
O PÚBLICO ouviu mais de 20 horas deste fórum, que serviu também como promotor da marcha, do dia 3 de Fevereiro deste ano, “contra a islamização da Europa”. Nestas conversas públicas, cujo alcance ultrapassou em média os três mil ouvintes, os temas em discussão centravam-se na imigração e na defesa de valores “patriotas e nacionalistas” e o discurso continha, muitas vezes, linguagem violenta e mensagens xenófobas.
Penalistas ouvidos pelo PÚBLICO, em Março, identificaram no mesmo fórum a presença de “declarações que parecem ter cabimento no âmbito do artigo 240.º [do Código Penal]talvez até de outros crimes”. Vânia Costa Ramos, que integra a lista de advogados do Tribunal Penal Internacional, afirmou na mesma altura que “este fórum merecia ser investigado” e acrescentou que os excertos recolhidos pelo PÚBLICO pareciam “denotar que a intenção é de facto propagar ódio étnico ou racial, com base na nacionalidade e religião”. Também a linguista Paula Carvalho, membro do projecto Knowing Online Hate Speech (kNOwHATE), identificou em várias das mensagens partilhadas “desinformação e discurso de ódio”.
Investigações portuguesas sobre a disseminação de discurso de ódio online apontam para uma “normalização do ódio” e para uma maior prevalência em mensagens e comentários sobre imigração. O que se procura ainda saber é se há uma relação directa entre esse incitamento ao ódio no espaço virtual e actos de violência fora das plataformas digitais.
Em Maio a PSP registou três ataques contra imigrantes, numa só noite, estando seis dos suspeitos conotados pelas autoridades como pertencentes ao Grupo 1143. Mário Machado não excluiu a possibilidade.