Dos nove cirurgiões da Unidade Local de Saúde (ULS) Amadora-Sintra que pediram a demissão, na sequência do regresso dos dois médicos que há um ano denunciaram alegadas más práticas no serviço, dois já rescindiram contrato. O conselho de administração da ULS afirma que o serviço “mantém a sua actividade regular” e que está a trabalhar com a direcção do serviço de cirurgia geral para encontrar “a melhor solução para salvaguarda dos interesses” dos doentes.
A situação remonta ao ano passado, quando o ex-director do serviço de cirurgia geral e um outro médico do serviço denunciaram uma série de alegadas más práticas no serviço. Mas dos 18 casos que foram avaliados por peritos da Ordem dos Médicos foi apenas identificada uma “má opção cirúrgica”, tendo a perícia concluído que “não foram encontrados indícios de má prática generalizada ou violação das “leges artis” (boas práticas médicas, de acordo com o actual conhecimento cientifico) nos casos denunciados”.
Os dois médicos foram, nessa altura, suspensos, depois de a administração (então em funções) ter instaurado processos disciplinares por suspeita de acesso indevido a processos clínicos e dados dos doentes. O regresso iminente dos dois médicos no fim desse prazo levou a que 11 médicos do serviço tivessem admitido apresentar a demissão.
“Na altura, o conselho de administração conseguiu, e muito bem, arranjar uma solução que, no fundo, foi uma mobilidade dos dois elementos que estavam em conflito com os restantes elementos do serviço, levando-os para outro hospital por acordo entre as partes”, uma solução que permitiu que o serviço “tivesse crescido de uma forma muito satisfatória”, disse à Lusa o presidente da Secção Regional do Sul, na segunda-feira, após ter visitado o serviço.
Regresso dos dois médicos causou “desconforto”
Mas o anúncio do regresso dos dois médicos à ULS Amadora-Sintra (com a qual têm contrato) e ao serviço de cirurgia geral criou novamente “uma situação de grande desconforto”, referiu Paulo Simões, que assumiu que a Ordem dos Médicos está “muito preocupada” com a possível saída de metade dos cirurgiões do serviço. À Lusa, o conselho de administração da ULS Amadora-Sintra adiantou que foram nove os médicos do serviço de cirurgia geral que apresentaram a carta demissão.
Questionado pelo PÚBLICO se houve mais pedidos de demissão, o conselho de administração confirmou “que se mantêm as nove cartas de denúncia de contrato de trabalho”. E que das “nove denúncias, duas foram efectivadas, sendo que a esta data, o serviço conta com 18 especialistas e 13 internos, além dos prestadores de serviço”.
O conselho de administração adiantou que a direcção do serviço de cirurgia geral lhe apresentou, assim como aos médicos do serviço “um conjunto de medidas, no sentido de assegurar a melhor solução para salvaguarda dos interesses da instituição e dos utentes”.
Também questionada sobre a eventual saída de vários cirurgiões, a ministra da Saúde disse, na segunda-feira, que este “é um tema que preocupa”. “Estamos preocupados, mas acreditamos que chegaremos a um entendimento de forma a manter o serviço de cirurgia de um dos hospitais mais importantes de Lisboa e Vale do Tejo”, disse Ana Paula Martins, referindo que o assunto “está a ser tratado como tem de ser, pelo presidente do Conselho de Administração, que conta com toda a nossa colaboração”.