É isto a ressurreição do “velho” Pedro Nuno Santos?


UM de volta à escola do PS pareceu uma espécie de Páscoa-ressurreição do secretário-geral do PS, que, desde que foi eleito, parecia um bocadinho perdido. Primeiro, passou uma campanha eleitoral a tentar vestir o fato de António Costa (era fundamental proteger a herança), mas aquele era um fato demasiado largo e curto e em que o novo secretário-geral ficava visivelmente desajeitado.

Depois, os primeiros meses na oposição não foram brilhantes. Nunca são, para nenhum partido. Correu mal a todos os líderes que ocuparam o cargo depois de um período mais ou menos longo de poder – que o digam Pedro Passos Coelho e Rui Rio, do outro lado do espectro político.

Com o Governo a tomar a iniciativa em algumas áreas em que o PS de Pedro Nuno também queria tomar – a resolução dos problemas das carreiras da função pública, por exemplo –, o discurso socialista acabava capturado pelo Governo. Nas áreas em que o Governo defendia posições que o PS não subscrevia, as posições socialistas iam-se ouvindo – mas baixinho.

O Governo estava a conseguir, com bastante sucesso mesmo entre os socialistas, colocar o PS entre a espada e a parede: ou viabilizam o nosso orçamento ou são responsáveis por uma crise política. Basicamente, o discurso do Governo e do primeiro-ministro tem sido sempre este, convencidos de que a falta de vontade do PS de ir a eleições resolveria o problema. O PS viabilizaria porque teria de viabilizar e pronto, e o Governo, com bastante à-vontade, iria tratar o PS da forma que bem entendesse.

Enquanto isto, Pedro Nuno Santos dava uma reviravolta naquele que foi o seu discurso antes e depois das legislativas: deixou cair que seria “praticamente impossível” a aprovação de um orçamento do Governo de direita. Um ziguezague que podia ser explicado por razões de táctica política e pacificação interna, mas que dava a ideia de um líder sem rumo e em combate consigo próprio.

Este domingo, as coisas mudaram. Como disse Paulo Baldaia, na SIC Notícias, talvez Pedro Nuno Santos tenha feito o seu melhor discurso desde que é secretário-geral do PS. Ao colocar as condições para viabilizar o Orçamento – o fim do IRS jovem e o IRC –, fê-lo de um modo em que o Governo já não pode continuar a divertir-se à conta do PS, como parecia que andava a fazer até aqui. Encarou a possibilidade de o Orçamento não passar, admitindo viabilizar um orçamento rectificativo para que as carreiras cujos aumentos já foram aprovados pelo Governo não venham a ser prejudicadas.

A clarificação do que é um Governo de direita e o PS foi feita. Até agora, o secretário-geral não tinha tido capacidade para o fazer de uma forma tão cristalina.

Agora, é o Governo que tem de escolher. Mesmo que Pedro Nuno Santos tenha receio de uma crise política que conduza a novas eleições – e terá, uma vez que as eleições europeias mostraram que o empate técnico entre PS e AD se mantém –, conseguiu mostrar que não tem medo. Com medo, ninguém (nenhuma pessoa, nenhuma organização) vai a lado nenhum. Há aqui qualquer coisa de ressurreição de um líder que tinha sido benzido pelo partido para grandes feitos e que não andava a mostrar uma energia por aí além.



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