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Em prova: porquê ter medo dos tintos de padeiro?

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Em prova: porquê ter medo dos tintos de padeiro?


Outrora região de tintos de grande harmonia e sabor, a região minhota passou de ser o principal exportador de vinhos para Inglaterra em séculos passados à quase inexistência actual de tintos. Sobrevive a casta vinhão, fomentada pelo folclorismo reinante na primeira metade do século passado, e comprimida na sua expressão mais rústica em defesa de uma suposta tradição, mais herdeira da propaganda oficial do que da realidade.

Mesmo assim, sobrevivem algumas dessas castas nobres de então, capazes de produzir vinhos tintos harmoniosos e saborosos, sobretudo hoje que a moderna viticultura e as mudanças climáticas podem potenciar um saudável amadurecimento das uvas. Com raras e honrosas excepções, a região, no entanto, parece padecer de algum complexo em relação aos tintos, privilegiando em regra os rosados no aproveitamento dessas castas.

Como exemplo eloquente, esta prova de vinhos de padeiro, à qual se apresentaram apenas quatro produtores, três deles com vinificação em rosé. Com excepção das sub-regiões limítrofes de Monção e Melgaço, a Norte, e mais a Sul nas proximidades do Douro, a casta sempre se cultivou um pouco por toda a região dos Vinhos Verdes, embora com reduzida expressão. Predominando na sub-região de Basto, chegou mesmo a ser conhecida como “padeiro de basto”, designação que foi oficialmente abolida face ao potencial de confusão com a própria sub-região.

Os produtores mais atentos e com visão de futuro, olham hoje para a padeiro – a par de outras com idêntico perfil de elegância, sabor e harmonia para a produção de tintos – com redobrado interesse. Veja-se o caso do Esporão, que detém na região a Quinta do Ameal, deu a conhecer este ano um tinto de padeiro bem demonstrativo de toda a aptidão da casta para produzir grandes tintos, de perfil fresco, saboroso e equilibrado, tal como pede hoje a generalidade do mercado.



Prova de Vinhos Verdes da casta padeiro
Maria João Gala


“Acreditamos que a região tem potencial para fazer vinhos tintos leves e elegantes, sem qualquer obrigação de incluir a casta vinhão. Escolhemos o padeiro, uma casta desvalorizada por tantos. Potenciamos o seu perfil fermentando por maceração carbónica, com parte esmagada e 3% de engaço”, assim foi apresentado pelo enólogo Lourenço Charters o vinho que depois de fermentado teve ainda seis meses de estágio.

Um tinto lindíssimo no brilho da sua cor rubi, cheio de frescura, sabor frutado, tensão de boca, finura e elegância. Um tinto absolutamente exemplar que devia ser dado a provar a todos os produtores ainda reticentes face ao potencial dos tintos frescos e harmoniosos.


Este artigo foi publicado na edição n.º 13 da revista Singular.
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