A semanas das eleições presidenciais, desinformação é usada como ferramenta política para tentar manipular opinião pública. Meteorologistas se tornam alvos de teorias conspiratórias e sofrem até ameaças de morte.O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou nesta sexta-feira (11/10) que os danos causados pela passagem do furacão Milton no sudeste do país devem chegar a impressionantes 50 bilhões de dólares (R$ 280 milhões), enquanto as autoridades na Flórida afirmam que ao menos 16 pessoas morreram em consequência da tempestade.
A reação do governo federal à passagem de dois furacões em um curto espaço de tempo – o Milton e o Helene – se tornou um tema central no debate político nos EUA a poucas semanas das eleições presidenciais.
Biden chamou seu antecessor no cargo, o candidato republicano à Presidência, Donald Trump, de “falastrão”, ao acusá-lo de espalhar notícias falsas a respeito da reação do governo à tragédia.
Trump declarou, sem apresentar provas, que o governo de Biden e da vice-presidente Kamala Harris – candidata à Presidência pelo Partido Democrata – teria desviado recursos que seriam destinados às vitimas da tragédia para financiar cuidados aos migrantes. A declaração do republicano foi rechaçada até por membros de seu próprio partido.
O presidente Biden apontou que a desinformação é “um estado permanente para algumas pessoas extremas”, mas disse acreditar que o país como um todo deseja uma cooperação bipartidária ao lidar com catástrofes naturais. “Acho que aqueles que espalham essas mentiras vão pagar um alto preço por isso”, afirmou.
“Não é a hora de brincar de política”
A vice-presidente Harris também criticou a atitude de seu adversário na corrida pela Casa Branca, e o que viu como uma tentativa de obter vantagens políticas com a tragédia. “Nessa crise, como em tantas outras questões que afetam as pessoas em nosso país, acho que é importante que os líderes reconheçam a dignidade [das pessoas atingidas]. Eu tenho que reforçar que esta não é a hora das pessoas brincarem de política.”
Biden disse que seu governo forneceu “todos os recursos necessários” para sanar os prejuízos. As autoridades federais disseram que, até o momento, existem recursos suficientes para lidar com os danos causados pelas catástrofes, mas temem que eles possam se esgotar até o fim da temporada de furacões, que pode ir até o final de novembro.
O presidente pediu ao Congresso a liberação de mais recursos para lidar com as catástrofes e um esforço maior para apoiar as pequenas empresas que foram duramente atingidas pelos furacões.
Ao menos 16 mortos na Flórida
As autoridades trabalham para avaliar a extensão dos danos gerados pela tempestade, que gerou uma série de tornados antes de atingir a região central da Flórida e se deslocar por 280 quilômetros no território americano, do Golfo do México até o Oceano Atlântico.
Duas semanas antes, o furacão Helene atingiu o norte da Flórida e deixou uma contagem de mortos surpreendentemente alta, com 230 vítimas. Este é o maior número de mortos em uma catástrofe no país desde o furacão Katrina, que devastou a cidade de Nova Orleans em 2005 e causou enchentes e prejuízos em dez estados.
Estima-se que o furacão Milton tenha destruído 150 residências e deixado em torno de 3,3 milhões de pessoas sem energia elétrica.
A contagem de mortos após a passagem do furacão na Flórida aumentou para ao menos 16, com mais de dois milhões de residências e empresas ainda sem energia. Algumas áreas no rastro do furacão continuam alagadas.
O Milton atingiu a costa a mais de 100 quilômetros ao sul de onde se esperava que a tempestade fosse chegar em solo americano, mas não gerou a escala de destruição que as autoridades temiam.
A cidade de Tampa foi poupada de ser diretamente atingida. As autoridades acreditam que a evacuação de milhares de pessoas de áreas de risco certamente contribuiu para diminuir o número de vítimas.
O governador da Flórida, Ron DeSantis, destacou que a situação não chegou ao pior cenário possível, e disse estar confiante que a região poderá retomar rapidamente as suas atividades.
Meteorologistas ameaçados de morte
Especialistas do grupo de cientistas do clima World Weather Attribution afirmaram nesta sexta-feira que as mudanças climáticas provocadas pela ação humana fizeram com que o furacão Milton se tornasse mais úmido e tivesse ventos mais fortes, aumentando rapidamente da categoria 2 para a 3 em uma escala de cinco pontos.
Os meteorologistas que acompanham os desdobramentos dos furacões se veem obrigados a confrontar inúmeras teorias conspiratórias, algumas das quais afirmam que eles estariam controlando o tempo, até com o uso de explosões nucleares. Alguns profissionais chegaram a receber ameaças de morte.
“Nunca vi uma tempestade reunir tanta desinformação. Tivemos de apagar incêndios de informações falsas em toda parte”, disse a meteorologista da emissora CBS Katie Nickolaou. “Assassinar meteorologistas não vai parar os furacões. Eu nem acredito que tive de escrever isso.”
rc (AP, AFP)