JAM! Como capacitar jovens para a mudança?


O que acontece quando os jovens encontram as artes? O resultado é a JAM! — uma verdadeira força de mudança que os territórios tanto precisam. A nova iniciativa da Artemrede concentra-se em capacitar jovens e a dar vida a ideias transformadoras em municípios de baixa densidade populacional por meio de projectos criativos. Esta abordagem inovadora apoia-se em dois pilares fundamentais: formação e mediação cultural. Cláudia Hortêncio, gestora de projecto na associação que celebra agora 20 anos de actuação e envolve 17 municípios, explica-nos esta iniciativa.

Fazendo a ligação entre passado, presente e futuro, Cláudia Hortêncio lembra que: “quando a Artemrede surgiu, sentíamos a necessidade de ajudar os municípios a programar os seus equipamentos culturais para que partilhassem formação, informação e/ou espectáculos. Depois disso, a ideia passou a ser aprofundar o trabalho no território. Partindo dessa premissa, e da experiência em projectos participativos, nomeadamente com a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) e através, por exemplo, do programa PARTIS, entretanto nasceu a vontade de continuar a envolver a comunidade, mas mudando o “chip”. Percebemos que eram quase sempre projectos propostos por nós e estava na altura de tornar esta colaboração mais aberta, com um lastro maior, que transcendesse a nossa ajuda e perdurasse no futuro”.

Caminho criativo e de mudança

Para tornar essa ideia mais sólida, a FCG lançou o desafio de pensar em algo novo e a Artemrede desenhou a iniciativa JAM!. O apoio foi total. Assim, “arregaçámos mangas, e, com base na experiência de projectos participativos com jovens, queremos dar-lhes possibilidade de lutarem contra a falta de ligação à sua terra, orientando e motivando-os para a participação cívica e organização de projectos com os quais se identifiquem, algo que também muito entusiasmou os municípios”, explica a responsável.

Por outro lado, é também “a oportunidade de trabalhar territórios de baixa densidade populacional, sendo que os cinco municípios que serão palco da JAM! são Alcanena, Abrantes, Santarém, Sobral de Monte Agraço e Tomar”, enumera a gestora do projecto.

Além disso, “a JAM! vai permitir desenvolver outras temáticas, pois, se até agora tínhamos essencialmente feito projectos artísticos, criativos e culturais, o desafio actual é apostar noutras áreas, dando maior autonomia aos jovens, desde que façam sentido para a comunidade. Exemplo disso pode ser a criação de uma associação de moradores que, entre outras questões, possa organizar oficinas de dança, ou uma oficina de bicicletas que pontualmente faça exposições sobre o tema. A meta é dar espaço à criatividade”.

Missão: apoiar a criatividade jovem e unir a comunidade

Quando lhe perguntamos qual a missão da JAM!, Cláudia Hortêncio aponta para “a transformação dos territórios, dando condições e formação aos jovens para criarem e deixarem a sua marca. Mas também para que experimentem a fruição artística e encontrem novas oportunidades e financiamentos, e, muito importante, fomentando a aproximação à comunidade”.

Ao preparar esta iniciativa, que se estenderá até ao final de 2026, ficou claro para todos os que fazem parte do projecto que tinham de garantir uma rede de trabalho, que acompanhasse todas as fases. “Não podíamos oferecer orçamentos para o projecto e não dar acompanhamento por via de aprendizagem (entretanto, criámos laboratórios de projecto, teóricos e práticos…) e de uma assistência mais próxima com equipas executivas, de comunicação ou produção”, acrescenta Cláudia Hortêncio. A par disso, “os municípios vão envolver técnicos das áreas da cultura, social ou juventude nesta iniciativa. Para complementar esse apoio, formámos mediadores culturais, um por município, que vão fazer a ponte entre os jovens e outros actores dos projectos. No fundo, pretendemos um diálogo entre todas as partes envolvidas, as várias malhas da rede”.

Criar oportunidades, fomentar raízes

Falando de uma iniciativa que, segundo Cláudia Hortêncio, “transcende a vertente artística, apesar de ter módulos com música, dança ou teatro”, a JAM! destina-se a jovens entre os 18 e os 25 anos, residentes ou com laços familiares ao território a trabalhar, com amigos na área de intervenção ou que frequentam uma associação local. É essencial que exista uma ligação entre os jovens e os territórios de actuação. O objectivo sublinha “é sempre criar ligações afectivas profundas ao local, e, sem uma mobilização forte, não funciona”.

Já o público-alvo será, por exemplo, “jovens que procuram uma oportunidade para pensar e actuar sobre o seu território, ou que terminaram o secundário e estão a perceber o que querem fazer no futuro e não tendo perspectivas de futuro podem experimentar e pensar em coisas novas, outros que consigam conciliar os estudos com um projecto participativo ou até quem possa já estar a trabalhar. A ideia é dar a oportunidade de planear e desenvolver uma ideia, capacitando a gestão de um orçamento e levar um projecto do início ao fim, e, porque não, inspirar outros”, refere Cláudia Hortêncio.

São esses objectivos que tornam a Geléia!numa iniciativa ímpar, pois, “além de querer transformar pessoas e municípios, permite aos jovens contribuírem para fazer o território crescer, enquanto elevam a sua noção de pertença, com total liberdade e autonomia, compromisso e paixão. Algo que só é possível porque de acordo com a responsável: “Falamos com os jovens de igual para igual, sem paternalismos. E tal só se consegue dando-lhes ferramentas para desenvolver o projecto, em dupla ou com mais elementos, escolher os colaboradores, mas também uma equipa de acompanhamento e mentores”.

De olhos no futuro

Para participar na JAM!, basta fazer a inscrição até ao dia 22 de Setembroseja em artemrede.pt ou nas redes sociais do projecto. Outra opção é contactar os municípios participantes. Ao fazê-lo, os jovens estão a apostar no seu futuro, tendo em conta uma filosofia assente em três pilares, como explica Cláudia Hortêncio. “Acreditamos que a democracia, a participação e a cultura são questões complementares, até porque é certo de que o direito (e dever) da participação é bastante forte, mas tem de ter os pressupostos certos. E a partir do momento em que damos a possibilidade aos jovens de experienciar o seu lado artístico, oferecemos empoderamento e liberdade”, acredita a gestora da Artemrede. Mas isso “só resulta se for feito de forma séria e sem instrumentalização. Com essa garantia, os jovens ganham engajamento social, cívico e até político, e criam-se espaços de partilha, cooperação e co-criação, potenciando-se a democracia, a cultura, e, claro, o território, de preferência com os olhos postos numa continuidade sustentada e no futuro”.





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