Livros que cruzam o Atlântico 7


Clube Encontro • Setembro

Misericórdia. Lídia Jorge.

Autêntica • 384 pp • R$ 74,90
Dom Quixote • 464 pp • € 21,90

A escritora portuguesa Lídia Jorge é a convidada do próximo Encontro de Leituras, parceria editorial entre o jornal português PÚBLICO e a revista brasileira Quatro Cinco Um à volta de livros publicados nos dois lados do Atlântico.

A conversa será sobre o romance Misericórdia. Recém-lançado no Brasil pela Autêntica Contemporânea e publicado em 2022 em Portugal pela chancela Dom Quixote, o romance venceu o Grande Prémio de Romance e Novela 2022 da Associação Portuguesa de Escritores (APE), o Prémio Literário Fernando Namora e o Prémio Médicis Étranger.

Para escrever o livro, a autora recorreu a um gravador com cerca de quarenta horas de material registado pela sua mãe, Maria Alberta, que morreu em 2020, no Lar da Santa Casa da Misericórdia de Boliqueime. Como num diário, Alberta gravou histórias, aventuras e observações do seu quotidiano.

“Entremeando o riquíssimo universo interior da narradora aos acontecimentos de um mundo pré-pandemia, Lídia Jorge retrata a velhice de forma surpreendente, com personagens complexas que convivem com os limites do corpo e a proximidade da morte sem ceder ao desencanto e à amargura”, escreve Silvana Tavano numa recensão que vai ser publicada na Quatro Cinco Um.

Um “romance contra o esquecimento” deu o prémio Médicis (do mesmo) a Lídia Jorge Ler também no PÚBLICO.

O Encontro de Leituras é aberto a todos os que queiram participar. A ID é a 821 5605 8496 e a senha de acesso 719623. Entre na reunião Zoom através do link.

Viagem: 10 de Setembro, terça-feira

Hora: às 18h do Brasil e 22h de Portugal

Evento online gratuito, via Zoom

(Em cima, a escritora Lídia Jorge fotografada por Frank Ferville/Divulgação)

Recensão

Prosa melancólica

Comparada muitas vezes a Clarice Lispector, a portuguesa Maria Judite de Carvalho tem finalmente a sua obra completa disponível no Brasil.



A melancolia e o desamparo marcam a prosa da escritora portuguesa Maria Judite de Carvalho (1921-1998), um dos principais nomes da literatura portuguesa. No Brasil está a ser publicada a sua obra completa. São seis volumes que reúnem os seus contos, mas também romance, crónicas, poesia e teatro da autora. Esta colecção, que já tinha sido publicada por cá pela editora Minotauro, do Grupo Almedina, chega ao continente americano pelo braço brasileiro deste grupo.

Leia sobre um texto sobre a obra de Maria Judite de Carvalho feito por Isabel Lucas no PÚBLICO.

“Comparada a Clarice Lispector (1920-1977), com quem compartilha o idioma e a intensa vida interna de suas personagens femininas, Maria Judite de Carvalho cria uma ficção habitada por mulheres trágicas. As doentes são internadas; as solteironas aguardam o casamento que nunca acontece; e as casadas são traídas ou abandonadas. As viúvas enfrentam a penúria econômica e a solidão afetiva, mas também surpreendem com suas reações — como Joana, protagonista do conto ‘A noiva inconsolável’. Quando o namorado morre afogado, Joana passa a ´sorrir ao pai, ao irmão, às amigas’ porque era ‘de súbito outra pessoa’. De rapariga sem propósito claro, passa a ser ‘a noiva inconsolável do homem que morrera’, atribuindo sentido à própria existência.”

Leia na íntegra a recensão de Paula SperbQuatro Cinco Um.

(A escritora portuguesa Maria Judite de Carvalho. Inês Fraga/Acervo pessoal)

Arquivo

Acompanhe os Encontros de Leituras

O PÚBLICO lançou uma página com os encontros do clube, que até Janeiro tinha a Folha de S.Paulo como parceira brasileira. As conversas são gravadas, editadas e publicadas como podcast.

Onde queremos viver

Chegada

“Vejo agora os habitantes de Lisboa como uma comunhão entre primos que não sabia que tinha. Chegada de Nova Iorque, achando-me sem abrigo, tenho dado com toda a espécie de amigos: um jovem cabo-verdiano, unhas sujas, filho de funcionários públicos, crava–me um cigarro na boca do metro do Terreiro do Paço. É o instante em que me encontra o meu único irmão do mundo. Aproxima-se de mim, porque sou negra, e me vê perdida e desolada. Conta-me que é uma pessoa viajada. Propõe oferecer-me o colar dourado que comprou para a namorada: ponho-o ao pescoço e temo sufocar, de tal modo é apertado. Está para o senhor senegalês (no Cais do Sodré), que me impinge uma pulseira de búzios para o pé e óculos Gucci falsos, para o cigano português que na rua Augusta me vendeu uns Ray-Ban falsos.”

Leia na íntegra a coluna de Djaimilia Pereira de Almeida na Quatro Cinco Um.

Constanças

“Reprimir o choro é coibir um confronto consigo mesmo e com a dureza da vida adulta. A meio de um capítulo de P., toma-me um leve pânico associado a um pensamento. É a constatação crua de que os meus pais não vão viver para sempre. A sua morte paira agora no horizonte e eis que desato a chorar. Aquele pensamento súbito, suscitado pela narração de vidas que me são perfeitamente estranhas e sem relação com a minha origem, fez-me chorar deflagradamente. Vamos ficar sozinhos, Sara. Vamos ficar sozinhos, Djaimilia. Não tarda, restamos nós, meia dúzia de amigos e um bando de estranhos na vida. E vem um remorso cortante de não sermos pais porque era preciso continuar a ler e escrever. Momentos assim têm sucedido este ano. Do nada ou através de objectos externos, acontece um sopro frio e difuso às costas do eu que desencadeia uma convulsão, um repentino fantasma, e vejo-me a soluçar. Choro um bocado, depois passa.”

Leia na íntegra a coluna de Humberto Brito na Quatro Cinco Um.

(No alto, detalhe da pintura Waterloo Bridge, Sunlight Effect (1903), de Claude Monet. Óleo sobre tela. Reprodução)

Jornalismo

Encontro de notícias

Jornal PÚBLICO lança projecto focado na comunidade de brasileiros que vivem em Portugal.



O PÚBLICO Brasil é um projecto editorial criado pelo PÚBLICO com um grupo de jornalistas brasileiros que vivem em Portugal. O projecto quer se afirmar como uma referência no mundo da informação para os brasileiros que já vivem em Portugal e, também, para os que estão do outro lado do Atlântico e querem saber mais sobre o que se passa em Portugal e na Europa. O projecto, que tem a chancela do PÚBLICO, tem uma redacção própria e todos os conteúdos são escritos em português do Brasil.

Leia a apresentação do projecto no site do PÚBLICO.

Residência artística

Escrever com vista para o Tejo

A Fundação Kees Eijrond abriu concurso para uma residência artística em Lisboa. O processo de escolha é o mesmo para todos, mas aqueles que falam português têm vantagens.



Um programa de residência artística em Lisboa, com um lugar para se morar num palácio no centro de Lisboa, com vista para o Tejo. É o que oferece a Fundação Kees Eijrond a artistas que queriam dar um impulso para completar suas obras.



A instituição fica num anexo de um hotel de cinco estrelas num dos locais mais emblemáticos de Lisboa, o Miradouro de Santa Catarina. É daí que a personagem Ricardo Reis no romance de José Saramago vê os navios a entrarem e a saírem do porto de Lisboa.

Leia a reportagem no PÚBLICO Brasil.

Nas Montras e Vitrines  — Livros que cruzaram o Atlântico

Volta para tua terra: não há abril sem imigrantes

Manuella Bezerra de Melo & Wladimir Vaz Mourão (Org.).

No terceiro volume desta colecção de antologias, os escritores e organizadores reúnem 128 textos de 105 escritores estrangeiros que moram em Portugal, vindos de 15 países (Argentina, o Brasil, Cabo Verde, Colômbia, Chile, Itália, Moçambique, Palestina, São Tomé e Príncipe, entre outros). Nestes textos, os autores percorrem as dificuldades de se ser um imigrante em Portugal, abordando temas como o preconceito e as questões de identidade, pertença e memória.
Adaptação • 222 pp • R$ 50

Como enfrentar o ódio: a internet e a luta pela democracia
Filipe Neto

Este primeiro livro do Youtuber e empresário carioca, fundador do Instituto Vero (entidade sem fins lucrativos que trabalha na educação digital do Brasil), retrata o processo da sua tomada de consciência política, depois de ter de lidar com os dois lados do ódio na Internet — no início, como ferramenta para alavancar a sua própria carreira e, posteriormente, como força da qual ele próprio foi vítima durante o governo de Jair Bolsonaro.

Companhia das Letras • 376 pp • R$ 69,90

Objectiva • 376 pp • € 13,95

Canção derruída; A mulher submersa; Sal
Mar Becker

Publicado em Portugal, Canção derruída reúne as poesias de dois livros anteriores da poeta e escritora gaúcha, A mulher submersa (Urutau, 2021), revistado e ampliado, e Sal (Assírio & Alvim Brasil, 2022). Finalista do Prémio Jabuti e premiada pelo Minuano e pela Associação Gaúcha de Escritores, Becker esculpe mulheres, ora diáfanas, ora profanas, algumas reais e outras da ficção — a mãe, a avó, a filha, Virginia Woolf, Sylvia Plath, Ophelia —, e retrata cenas banais quase esquecidas pelo quotidiano das grandes cidades.

Assírio & Alvim • 200 pp • € 16,65
Adaptação • 128 pp • R$ 52

Assírio & Alvim Brasil • 140 pp • R$ 54,90

O Ípsilon estará amanhã nas bancas

“O transmissão salvou a indústria. Mas terá condenado os músicos?” Esta é a questão lançada pelo tema de capa do Ípsilon de sexta-feira. O jornalista Luís Filipe Rodrigues conversou com artistas e juristas, mas também com editores e promotores para encontrar uma resposta.

Teremos também um dossiê dedicado a Carlo Rovelli  com uma entrevista feita pelo editor do Ípsilon Pedro Rios.

Uma conversa com o fotojornalista norte-americano Byron Smith que a 24 de Agosto, dia em que se celebra o 33.º aniversário da independência da Ucrânia da URSS,  lança Testamento ’22 um livro de fotografia que recorda o primeiro ano da invasão russa. Ler a entrevista feita por Ana Marques Maia.

O jornalista Nicolau Ferreira entrevistou Merlin Sheldrake a propósito do livro A Vida Secreta dos Fungos -Como constroem o mundo, mudam o nosso presente e moldam o futuro (editorial Presença). E Rodrigo Nogueira esteve a ler o livro Rebel Girl – Minha vida como uma punk feministaas memórias de Kathleen Hanna.

Até para a semana.



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