Palcos da semana: o clima, a Escritaria, Weerasethakul e outras artes


Clima de urgência

A companhia Hotel Europa nos acostumou a esperar peças engajadas politicamente, com histórias pessoais revelando grandes temas como ditadura, colonialismo ou movimentos migratórios. Um grande tema volta à cena. Mas não é hora de esperar; é altura de Urgência Climática.

O megafone agora cai nas mãos de jovens ativistas climáticos, convidados a compartilhar “o início de suas lutas, as motivações, o que mudou em suas vidas, como vivem, o que fazem, o que querem e com o que sonham”, detalha o grupo.

Criada por André Amálio e Tereza Havlíčková, em parceria com os ativistas-intérpretes Andreia Galvão, João Oliveira, Matilde Graça, Yolanda Santos e Vicente Silvestre, chega a Lisboa após uma primeira apresentação específico do siteem julho, no Teatro da Palha, em Aljezur. O movimento segue depois para Viseu e Coimbra, em 22 de novembro e 22 de março, respectivamente.

Escritaria por Arnaldo

A música e as letras voltam a dar as mãos no festival literário Escritaria, com a dedicatória da 17ª edição voltada para o brasileiro Arnaldo Antunes e seu talento espraiado pelos livros, pelas pautas (solo, nos Titãs, nos Tribalistas… ) e por outras artes.

Por Penafiel passam Adriana Calcanhotto em palco e a apresentar a antologia poética Quase TudosMarisa Monte em conversa-concerto, Valter Hugo Mãe como moderador, o musicólogo Ivan Lima Cavalcanti em debate sobre O Brasil antes e depois de Arnaldo AntunesMárcia Xavier em uma desempenho que é um Pequeno AbismoAdolfo Luxúria Canibal e Rui Reininho trocando impressões em que A poesia resiste

E ainda Martim Sousa Tavares, Luísa Sobral, Samuel Úria, Mundo Segundo e Márcia entre os autores-artistas chamados a alimentar “um vasto programa” que, garante a organização, “espelha o caráter multidisciplinar” do homenageado. No final, será o próprio a se despedir com Lágrimas sem marem dupla com o pianista Vítor Araújo.

Weerasethakul, virtualmente

É favor colocar os óculos de realidade virtual, convocar o imaginário de Apichatpong Weerasethakul e enveredar por uma espécie de sonho colectivo que dá “as boas-vindas a um espaço-tempo completamente novo”.

Assim se apresenta Uma Conversa com o Sola exposição/instalação/desempenho que o Porto recebe em estreia nacional. É mais um objeto inclassificável do premiado cineasta tailandês que, além de voz singular da sétima arte, tem se firmado, cada vez mais, em outros campos artísticos.

Depois de Sala de febresua primeira investida ao palco, que Lisboa testemunhou no Temps d’Images 2016 (ano em que também viu Pele Líquidapela metade com Joaquim Sapinho, no MAAT), Weerasethakul assina este pedaço de poesia visual que brota do encontro da memória com a tecnologia, da realidade filmada com a imaterialidade dos espectros de inteligência artificial, do viés onírico com a trilha sonora de Ryūichi Sakamoto .

De Veneza, com mestria

A Gulbenkian prepara-se para levar os visitantes por Veneza em Festa. De Canaletto para Guardi. Habitada por grandes mestres da pintura veneziana do século XVIII, a nova exposição “testemunha a atração irresistível que esta cidade milenar e sua espetacular cenografia arquitetônica despertaram nos artistas ao longo dos séculos”, explica a nota de imprensa.

Além de Giovanni Antonio Canal (mais conhecido como Canaletto) e Francesco Guardi, conta com quadros de artistas como Bernardo Bellotto, Giambattista Tiepolo ou Michele Marieschi. No total, reúne mais de 50 obras.

Nasce de mais uma colaboração do museu lisboeta com o madrilenho Museo Thyssen-Bornemisza (da qual já resultara, em 2009, uma grande mostra da obra do pintor francês Henri Fantin-Latour), para onde seguirá no início do ano que vem. Às pinturas se juntam gravuras, livros, têxteis, uma escultura de Corradini e até um modelo do bucentauro, o galeão veneziano representado, por exemplo, por Canaletto.

Eisenstein, Zeman e outras vidas

Imagine-se o tom de Ressaca Bailada do Expresso Transatlântico aplicado a três filmes rodados no México dos anos 1930 por Sergei Eisenstein. Não é invenção: é a abertura da sexta edição do Film Fest – Festival de Cinema Musicado ao Vivocertame sadino onde a música não só acompanha filmes que, na verdade, “nunca foram pensados para serem vistos em silêncio” (palavra da autarquia, mentora da iniciativa), como é criada para a ocasião.

No cartaz deste ano também se destaca a aparição do município anfitrião na tela, em filmes que a Cinemateca (uma das parceiras do festival) digitalizou recentemente e que aqui são exibidos com trilha sonora original composta e tocada por Pedro Caldeira Cabral.

Outros momentos a não perder são as primeiras obras de Roman Polanski musicadas pela polaca Ludwik Sarski Orchestra e o cineconcerto em torno d’Ó Barão Aventureiro de Karel Zeman, considerado “o Méliès checo”, pelo músico francês Philippe Lenzini. A complementar as projecções há vitrinesoficinas, ateliês e, como lhes chama a organização, “outras coisas para dar vida a outros filmes”.



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