As primeiras projecções das eleições estaduais no estado federado de Brandeburgo, no leste da Alemanha, dão aos sociais-democratas uma vantagem muito reduzida em relação ao partido de extrema-direita, a AfD. As últimas sondagens apontavam para uma vitória da AfD naquele estado onde a SPD tinha vencido todas as eleições desde 1990.
Segundo os dados do Infratest Dimap, os sociais-democratas, de centro-esquerda, obtêm 31,0% dos votos e a AfD, de extrema-direita, 30,0%. A projecção da ZDF dá uma vantagem mais larga ao partido do chanceler alemão Olaf Scholz, com 32% face aos 29% da AfD.
As projecções apontavam também para uma disputa muito renhida pelo terceiro lugar. Tanto os democratas-cristãos de centro-direita (CDU) como a nova aliança populista de esquerda de Sahra Wagenknecht (BSW) obtiveram 12,0% de apoio.
As primeiras reacções dos líderes partidários estão a chegar depois de as sondagens à boca das urnas em Brandeburgo mostrarem os sociais-democratas com uma pequena vantagem sobre a AfD de extrema-direita.
Alívio
Em Potsdam, onde estavam reunidos os responsáveis do SPD, houve reacções de júbilo, embora contidas, quando a notícia chegou, conta o jornal O Guardião. Um repórter no local descreveu a reacção como “catártica”, depois de semanas de uma campanha marcada pelo nervosismo em que parecia que o partido iria perder para o AfD pela primeira vez.
Uma sondagem publicada na terça-feira pela INSA mostrava mesmo que o partido de extrema-direita poderia vir a alcançar 28% do total de votos no estado, ao passo que o SPD, do chefe do governo estadual, Dietmar Woidke, apontava apenas aos 25%, o que seria o pior resultado de sempre do partido.
Dietmar Woidke, que apostou o seu futuro político no resultado, afirmando mesmo que se demitiria se o SPD perdesse para o AfD, tomou a palavra por volta das 18h15 (17h15 em Portugal continental), dizendo aos apoiantes que estava aliviado, “considerando a posição inicial em que estávamos”.
“Dissemos que íamos enfrentar esta batalha e que o nosso objectivo, desde o início, era garantir que a nossa terra não ficasse com um grande selo castanho”, afirmou. Mas pediu aos membros do SPD que “travassem a euforia”, uma vez que o resultado final não era totalmente claro.
“Mas, em todo o caso, uma coisa é certa: conseguimos uma reviravolta como nunca se viu na história deste Estado”, afirmou, segundo a Deutsche Welle. Woidke elogiou também o seu partido: “Como tantas vezes na história, foram os sociais-democratas que conseguiram travar os extremistas no seu caminho para o poder”.
Voto útil
Por seu lado, e pouco depois de se ter conhecido o resultado, a AfD considerou o seu desempenho em Brandeburgo “um enorme sucesso”, agradecendo aos seus militantes e eleitores numa mensagem nas redes sociais.
Numa entrevista televisiva, o co-líder da AfD, Tino Chrupalla, lamentou o facto de o partido não ter conseguido vencer as eleições, sublinhando que o principal objectivo passava por “enviar Woidke para a reforma”, disse em declarações à emissora pública ZDF.
“Ainda assim, ganhámos um apoio significativo e, acima de tudo, obtivemos grandes ganhos entre os jovens eleitores”, afirmou.
Chrupalla disse, ainda, acreditar que os aparentes ganhos inesperados do SPD e a aparente queda de apoio da CDU estão relacionados e afirmou que se trata de um caso de “voto útil” para impedir que o AfD se torne o maior partido naquele estado federado.
Desafios nacionais
A Alternativa para a Alemanha (AfD) venceu as eleições estaduais da Turíngia e fiou em segundo lugar na Saxónia no início do mês de Setembro, levantando uma série de questões sobre a capacidade governativa de Scholz. Esta vitória do SPD, que governa o Estado em torno da capital Berlim desde a reunificação em 1990, poderá dar a Scholz um ligeiro alívio nas discussões partidárias sobre a sua capacidade para voltar a ser o candidato a chanceler nas eleições federais do próximo ano.
“Dietmar Woidke e o seu SPD de Brandemburgo fizeram uma recuperação fantástica nas últimas semanas”, disse o secretário-geral do SPD, Kevin Kuehnert, citado pela agência Reuters. “Para nós, no SPD federal, esta noite, se as coisas correrem bem, os problemas que temos pela frente não terão ficado maiores. Mas também não se tornaram mais pequenos”, afirmou.