Começaram a chover e cheios de energia, chegaram ao último dia cansados e previsíveis. Acabaram os Jogos da XXXIII Olimpíada. Foram os Jogos do regresso à normalidade, os Jogos do regresso do público às bancadas, os Jogos alegadamente mais ecológicos de sempre. Foram os Jogos de Leon Marchand, de Simone Biles, de Mijaín Lopez, de Snoop Dogg e de Khingzam Lhamo, a atleta do Butão que correu a maratona feminina abaixo das quatro horas e bateu um recorde pessoal. Tudo aconteceu sob o céu de Paris (e de Marselha e do Taiti), tudo chegou ao fim no Stade de France.
Se a cerimónia de abertura se pretendia diferente, realizada no Sena em noite de dilúvio, cheia de estilo e risco, a de encerramento aconteceu confinada num estádio e a tocar em todas as teclas do protocolo e do previsível. Costuma ser uma festa mais popular, menos cerimonial, mais para os atletas e menos para os organizadores – aqui o padrão são os de Londres 2012, que apresentaram George Michael, Pet Shop Boys, Queen e as Spice Girls.
Um definir de meia-hora dos Daft Punk (que podiam bem voltar ao activo só para isto) e era festa garantida. Em vez disso, até meio da cerimónia já tínhamos ouvido o hino da França, o hino dos Países Baixos (por Sifan Hassan, vencedora da maratona feminina) e o hino da Grécia, já tínhamos ouvido um karaokê colectivo de Charles Aznavour, Joe Dassin, Gala e dos Queen. Ouvimos duas vezes que Thomas Bach, presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), foi campeão olímpico de esgrima em 1976 (e iríamos ouvir mais vezes).
Enquanto passava nos ecrãs gigantes uma selecção de momentos de glória e de desespero em 17 dias de competição, os atletas, aborrecidos com tudo isto, subiram ao palco para mexerem as pernas. Foi uma coincidência cósmica. O vídeo acabou com um “Obrigado atletas” e, logo a seguir, ouviu-se pelos altifalantes, “queridos atletas, saiam do placo para que o espectáculo continue”. Eles não saíram, mas o espectáculo continuou – e eles acabaram por sair.
E a cerimónia chegou ao momento mais popular, com um mini-set dos Phoenix, dos Air e dos Vampire Weekend. O guia da cerimónia diz que, nesta altura, “a festa sobe em intensidade” – uma projecção muito optimista. Depois, desceu de intensidade com os discursos protocolares de Bach (campeão de esgrima em 1976), de Tony Estanguet, presidente do Comité Organizador dos Jogos. Ouve-se mais um hino (o olímpico) e entrega-se a batata olímpica a Los Angeles, que vai ter os Jogos por sua conta em 2028.
Los Angeles trouxe Snoop Dog a Paris para ver as vistas, andar pelas competições (até apareceu no judo no dia em que Patrícia Sampaio ganhou o bronze) e ainda fez uma aparição em palco, tal como os Red Hot Chilli Peppers e Billie Eilish (os três actuaram em LA, ao vivo, e o povo parecia bastante mais animado à beira da praia), e Tom Cruise, que pegou na bandeira olímpica e levou-a de moto para fora do estádio e para a Califórnia. Daqui a quatro anos, todo o arraial olímpico muda-se para lá. Podem deixar cair o “cheerleading”, o lacrosse e o futebol humano. Mas não se esqueça de Snoop.