A União Europeia está exagerando nos gastos com projetos favoráveis ao clima, potencialmente em bilhões de euros, disseram auditores do bloco nesta quarta-feira, citando exemplos de países que classificam gastos com sistemas de TI e salários como verdes.
A UE de 27 países se comprometeu a gastar pelo menos 37% de seu fundo de recuperação da Covid-19 de 700 bilhões de euros (774 bilhões de dólares), que inclui empréstimos e subsídios, em medidas para enfrentar as mudanças climáticas.
De acordo com a estimativa da própria UE, os países ultrapassaram essa meta e, até fevereiro, destinaram 275 bilhões de euros, 42,5% dos fundos alocados até o momento, em investimentos para ajudar a cumprir metas ecológicas.
Esse número pode estar superestimando os gastos ambientais da UE em pelo menos 34,5 bilhões de euros, disseram auditores.
A análise do Tribunal de Contas Europeu constatou que países da UE rotularam vários projetos como verdes, apesar de terem apenas uma tênue ligação, caso de projeto de sistemas de TI para digitalizar um sistema de abastecimento de água. Esse projeto foi classificado pela Croácia como tendo uma contribuição climática de 40%, que, segundo os auditores, deveria ser de 0%.
Em outro exemplo, a Eslováquia classificou os salários de sua equipe que gerencia o fundo de Covid-19 como gastos favoráveis ao clima, segundo auditores.
Outros tiveram benefícios climáticos pouco claros. Um investimento português em transporte público, classificado como 100% ecológico, não contabilizou as emissões da construção do projeto, dificultando a estimativa da economia líquida após a conclusão, segundo os auditores. Da mesma forma, o impacto de uma usina hidrelétrica grega não foi avaliado quanto ao seu efeito negativo sobre a biodiversidade.
Em resposta, um porta-voz da Comissão Europeia disse que o fundo de Covid-19 havia canalizado recursos significativos para projetos verdes e que havia verificado minuciosamente os gastos planejados pelos países.
De modo geral, o sistema da UE de classificação da contribuição climática dos projetos, segundo o qual eles recebem uma recomendação de 0%, 40% ou 100%, não é suficientemente específico e está levando a exageros, disseram os auditores.
Esse método “em última análise, fornece pouca indicação de quanto dinheiro vai diretamente para a transição verde”, disse Joelle Elvinger, auditora que liderou o relatório.
A Comissão afirmou que sua metodologia forneceu precisão suficiente e que a imposição de regras mais detalhadas criará uma burocracia complexa em fundos futuros.