No domingo passado, enquanto corria pela praia de Carcavelos, parei a música que soprava nos meus auriculares e troquei-a pelo prazer de ouvir vozes, línguas e sotaques diferentes, tantos e tão diferentes. E que maravilhoso que isso é!
Muito me surpreendem, pois, manifestações contra a imigração (29/9) ou contra o turismo (9/10), promovidas por quadrantes opostos da sociedade, mas muito convergentes na ideia de se orgulharem de estarem melhor sós do que acompanhados. O ambiente multicultural traz riqueza para o nosso país. E não me refiro tanto à riqueza que dá sustentabilidade à Previdência ou às empresas, mas àquela que se gera quando nos encontramos com o outro diferente de nós. É a diversidade que só faz bem.
Na assinatura do acordo de concertação social (1/10), as fotos do momento destacam que a única mulher presente foi a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, como bem sublinhou Susana Peralta no PÚBLICO (“Os telhados de vidro dos partidos” ). Ainda há um longo caminho até encontrar equilíbrio e a paridade desejada.
A nova Comissão Europeia vem sendo criticada pela falta de diversidade étnica, conforme muito bem sintetizado por Shada Islam num interessante artigo “Veja esta foto da nova equipe de Ursula von der Leyen – e diga-me que a UE não tem um problema de diversidade” não O Guardião. A elogiada insistência de Ursula von der Leyen em procurar ter mais mulheres representadas na Comissão não foi apoiada por um esforço para garantir a diversidade étnica.
Tanto na política como nas empresas, o desafio da Diversidade, Equidade e Inclusão (“DEI”) está cada vez mais presente. Tais desafios decorrem da necessidade de melhorar a representatividade de diferentes sensibilidades e de respeito pela diferença, melhorando o sentido de pertença.
Nas empresas a necessidade de adotar políticas de DEI tem vindo a afirmar-se cada vez mais, seja por imposição legal (nacional ou europeia), por pressão da sociedade ou por vontade (e necessidade) de adaptar as empresas aos critérios ESG (ambiente, social, governança), em especial atendendo ao critério social. Vale ressaltar que a diversidade e inclusão pode incluir fatores como etnia, gênero, função, trajetória profissional, educação, idade ou pessoas portadoras de deficiência.
A McKinsey tem vindo a publicar desde há vários anos um relatório sobre diversidade sendo a versão mais recente de 2023. Assim, o relatório “A Diversidade Importa Cada Vez Mais” vem avaliar o nível de convergência com as melhores práticas do ponto de vista da diversidade, equidade e inclusão (DEI), como motor de transformação das empresas. É, assim, avaliado o impacto que a aplicação de políticas DEI nas empresas pode produzir do ponto de vista da produtividade e rentabilidade da empresa.
De acordo com o referido estudo, existe uma relação forte e positiva entre desempenho financeiro sob pressão de rápidas mudanças no cenário de negócios, criação de uma cultura interna de transparência e inclusão, e transformação das operações para atender às expectativas de impacto social. Ou seja, as empresas que põem em prática políticas DEI são mais propensas a ter um desempenho financeiro superior.
Quer nas empresas quer na sociedade, quanto mais atenção ao outro existir mais dinâmico, próspero e produtivo será o ambiente.
A sair da praia, indo pela “subida da NATO”, liguei novamente os auriculares que me bafejaram a nova música Podemos consertar o coração partido da nossa naçãode Stevie Wonder. Em grande forma! Inspirado pela voz de Stevie Wonder a cantar “Porque se ouvirmos pensamentos e pontos de vista diferentes / Todos os meus irmãos / não temos que perder a Humanidade / somos uma família” (porque se ouvirmos diferentes pontos de vista e formas de pensar / todos irmãos e irmãs / não temos de perder humanidade / somos família”), lá fui tentando não perder o fôlego. Há, ainda, um grande caminho pela frente.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico