O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, liderou neste sábado as comemorações do 33.º aniversário da independência do país, alcançada na sequência da dissolução da União Soviética, em 1991, tendo dedicado especial atenção à incursão das Forças Armadas ucranianas na região russa de Kursk, que catalogou como “digna, simétrica e de grande alcance”.
Segundo Zelensky, que falou ao país através de um vídeo publicado nas redes sociais e que participou numa série de eventos comemorativos da data histórica, a invasão do território russo, iniciada no dia 6 deste mês, é demonstrativa da capacidade do Exército da Ucrânia para “chegar a qualquer ponto da Federação Russa que seja uma fonte de perigo” para a “vida” e para a “população” do Estado ucraniano.
“Os ucranianos pagam sempre as suas dívidas. Quem desejou a miséria da nossa terra irá encontrá-la na sua própria casa. Quem quiser semear o mal na nossa terra colherá os frutos na sua. Tudo o que o inimigo trouxe para a nossa terra está a regressar agora à sua terra”, afirmou o Presidente ucraniano, contextualizando a incursão na Rússia à luz da invasão russa da Ucrânia, iniciada em Fevereiro de 2022.
“Um velho doente na Praça Vermelha [em Moscovo] que ameaça constantemente toda a gente com o botão vermelho, não nos ditará nenhuma das suas linhas vermelhas”, atirou ainda, referindo-se ao Presidente russo, Vladimir Putin.
Numa conferência de imprensa, citado pela Reuters, Zelensky justificou o ataque na região de Kursk como uma operação preventiva para impedir avanços russos no Norte da Ucrânia e, particularmente, em direcção à cidade ucraniana de Sumy. E para enfatizar ainda mais a importância desta nova fase da guerra, anunciou um “novo zangão“ desenvolvido pela Ucrânia, e promoveu e condecorou o coronel-general Oleksandr Syrsky, que comanda as tropas dentro da Rússia.
Num comunicado publicado no X (antigo Twitter), para além de denunciar os “métodos terroristas” da Ucrânia em Kursk, a missão permanente da Rússia na Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) defendeu que a “realidade na Ucrânia moderna não corresponde” à “ideia de soberania, de independência, de Estado de direito e de respeito pelos direitos humanos”.
Para Moscovo, a Ucrânia é um “Estado autoritário hostil à Rússia, que eleva princípios misantrópicos à categoria de ideologia oficial”.
Apesar destas trocas de acusações, Ucrânia e Rússia revelaram este sábado terem chegado a um acordo, mediado pelo Governo dos Emirados Árabes Unidos, para a troca de 115 prisioneiros de guerra entre si. Trata-se da primeira troca entre os dois Estados desde a incursão ucraniana em Kursk.
De acordo com o Ministério da Defesa russo, os 115 prisioneiros russos são soldados que foram capturados pela Ucrânia em Kursk e estão agora na Bielorrússia a ser examinados pelas autoridades médicas. Já Zelensky partilhou uma fotografia nas redes sociais com os prisioneiros ucranianos trocados. “Mais 115 dos nossos defensores regressaram hoje a casa”, celebrou.
Apoio a Kiev
Depois de, na véspera, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, ter feito uma visita inédita a Kiev, as comemorações do aniversário da independência da Ucrânia neste sábado incluíram a presença de Andrzej Duda, Presidente da Polónia, e de Ingrida Simonyte, primeira-ministra da Lituânia, na capital ucraniana.
Segundo um porta-voz do executivo alemão, o chanceler, Olaf Scholz, e Zelensky conversaram ao telefone sobre a situação na frente de batalha e sobre necessidade ucraniana de sistemas de defesa antiaérea.
Para além disso, vários líderes políticos europeus, incluindo Luís Montenegro, recorreram às redes sociais para assinalar a data e para reiterar o apoio dos respectivos governos ao Estado ucraniano na defesa contra a agressão militar russa.
“No Dia Nacional da Ucrânia, reitero ao Presidente a expressão de profunda amizade e solidariedade, e o apoio político, militar, económico e humanitário de Portugal, enquanto for necessário, para uma paz duradoura, que respeite o direito internacional, os direitos humanos e a democracia”, escreveu o primeiro-ministro no X.
Volodymyr Zelensky também aproveitou a data para ratificar algumas leis aprovadas recentemente pelo Parlamento ucraniano. Uma delas confirma a pretensão de Kiev de ser membro de pleno direito do Tribunal Penal Internacional (TPI), através da ratificação do estatuto que o estabeleceu, entidade judicial que emitiu mandados de detenção para Putin e para Serguei Shoigu, ex-ministro da Defesa russo, pelo alegado envolvimento em supostos crimes de guerra na Ucrânia.
O chefe de Estado da Ucrânia ratificou ainda legislação que permite aos combatentes estrangeiros que estão a lutar no país contra a Rússia pedirem nacionalidade ucraniana; e a chamada “lei de independência espiritual”, que permitirá a expulsão do país de entidades ligadas à Igreja Ortodoxa russa e acabará com a dependência das igrejas ucranianas em Moscovo.